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Flor usa nicotina em manipulação sexual
Espécie de tabaco selvagem libera substância tóxica para afastar aves e insetos que roubam seu néctar
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
As flores de uma espécie de
tabaco selvagem manipulam o
comportamento dos seus
"cúmplices" sexuais, os insetos
ou pássaros responsáveis pela
sua polinização, segundo pesquisa feita na Alemanha.
Usando odores para ora
atrair, ora repelir os animais, as
flores otimizam sua "vida sexual" -isto é, o cruzamento
com outras plantas que é benéfico à sobrevivência da espécie.
Uma das substâncias usadas
pela flor é a conhecida nicotina,
que causa a dependência química do fumante ao invadir o
seu cérebro. Ao contrário dos
humanos, os insetos e aves são
repelidos pelo cheiro da nicotina presente no néctar da flor do
tabaco selvagem. Isso é especialmente útil como "guerra
química", quando a planta precisa se defender de insetos que
roubam seu néctar ou comem a
flor, mas sem fazer polinização.
Porém, como para ser polinizada a flor precisa atrair o animal, ela também produz um
odor agradável -que lembra
jasmim ou morango- através
de outra substância, a benzil
acetona.
Segundo o líder da pesquisa,
Ian Baldwin, do Instituto Max
Planck para Ecologia Química,
de Jena, Alemanha, o estudo
mostrou "como as plantas resolvem um dilema muito importante: como obter sexo. As
plantas fazem sexo, como outros organismos".
O problema é que a planta é
um ser vivo imóvel. Em geral,
isso se resolve pela "autopolinização", pois a flor inclui órgãos
sexuais masculinos e femininos. O pólen é o equivalente na
planta do espermatozóide.
Mas o "sexo" com outras
plantas mediado pelos polinizadores é vantajoso para melhorar a aptidão biológica, passando características variadas e
genes em uma população que
podem facilitar sua sobrevivência, especialmente a capacidade de adaptação a mudanças
ambientais. Esse cruzamento é
obra da coevolução das plantas
com insetos e aves que ocorre
há dezenas de milhões de anos.
"As plantas usam muitos
meios para atrair polinizadores, incluindo dicas visuais e
odor", lembram Baldwin e dois
colegas, Danny Kessler e Klaus
Gase, em artigo na revista científica "Science". Isso explica a
variedade em uma floricultura.
Eles testaram o papel da nicotina e da benzil acetona no
relacionamento do tabaco (Nicotiana attenuata) com dois
polinizadores, um beija-flor
(Archilochus alexandri) e uma
mariposa (Hyles lineata).
Diferentes tipos de plantas
transgênicas foram montadas
para o estudo.
Baldwin e colegas filmavam
as flores desabrochando de
noite e atraindo (ou não) mariposas e beija-flores, além de
medir de manhã o quanto restava de néctar.
As plantas sem as substâncias estudadas eram menos visitadas. E as que não produziam nicotina tinham metade
do líquido das outras, indicando que os polinizadores puderam beber à vontade -mas
com isso, deixavam de visitar
outras flores e espalhar pólens.
Para a flor do tabaco selvagem,
o ideal é que o polinizador "beba com moderação".
Para demonstrar as vantagens reprodutivas da polinização e da "manipulação" feita
pela flor, a equipe fez dois outros testes científicos. Um envolveu flores sem o órgão masculino, a antera, o que impedia
a autopolinização e permitiu
checar a fertilização feita só
com auxílio dos "cúmplices"
animais. Ficou claro que apenas as plantas normais, do experimento-controle, recebiam
pólen de outras. Outro teste
checou a "paternidade" das sementes fertilizadas. E mostrou
que as plantas normais, produzindo nicotina e benzil acetona, tinham mais sucesso no
processo reprodutivo.
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