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"Curioso" Vandelli ganha exposição histórica no Rio
Criador das "viagens filosóficas" ao Brasil, naturalista é lembrado no aniversário de 200 anos do Jardim Botânico
Próximo de dom João, intelectual influenciou a corte a fugir para os trópicos e criou os primeiros museus lusitanos de história natural
Rafael Andrade/Folha Imagem
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Visitantes do Jardim Botânico do Rio de Janeiro observam desenhos do naturalista italiano Domenico Vandelli (1735-1816) em exposição que inaugurou o Museu do Meio Ambiente, anteontem
CAIO JOBIM
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DO RIO
Nas comemorações de seus
200 anos, o Jardim Botânico do
Rio de Janeiro abriu sexta-feira
para visitantes o Museu do
Meio Ambiente com a exposição "O gabinete de curiosidades de Domenico Vandelli", em
homenagem ao criador dos primeiros jardins botânicos e museus de história natural em
Portugal. Foi ele o idealizador,
no final do século 18, das "viagens filosóficas" ao Brasil.
Vandelli (1735-1816), naturalista italiano que havia trocado
Pádua por Lisboa a convite do
marquês de Pombal, foi o idealizador das expedições científicas patrocinadas pela coroa
portuguesa que vinham à colônia para pesquisar, relatar e catalogar a natureza brasileira.
Mesmo que nunca tenha vindo ao Brasil, sua influência não
se limitou à ciência. Vandelli
era muito próximo do príncipe
regente dom João e foi um dos
conselheiros da Corte que o
orientou a partir para o Rio de
Janeiro antes que Napoleão invadisse Lisboa. O primeiro Jardim Botânico de Portugal foi
inaugurado em 1768, com projeto do próprio Vandelli.
Imediatamente após a chegada da família real, dom João,
para quem o jardim da Ajuda
havia sido criado, fundou o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, onde agora foi inaugurado o
Museu do Meio Ambiente.
"A Finep (Financiadora de
Estudos e Projetos) financiou
uma pesquisa em que foram digitalizados o acervo de Vandelli, que estava espalhado no
Brasil, em Portugal e na França. Esse material virou uma caixa que reúne 8 livros e 16 cartazes (leia em texto à direita) e
agora, por ocasião da abertura
do Museu do Meio Ambiente,
montamos esta exposição",
afirma Anna Paula Martins, a
curadora da mostra.
Precursores dos museus, os
gabinetes de curiosidades eram
lugares em que os colecionadores dos séculos 17 e 18 reuniam
elementos diversos encontrados na natureza, mas sem qualquer tipo de catalogação. A exposição se propõe a reconstituir parte do espaço dos antigos
gabinetes para oferecer aos visitantes a perspectiva da história natural e do ambiente brasileiro por meio dos registros de
Vandelli e seus discípulos.
Em uma das salas se lê: "Museu é como um livro aberto".
"Como essa exposição partiu
de um trabalho de pesquisa, a
idéia é que as palavras-chave
saiam dos livros e ganhem as
paredes, que as ilustrações ampliadas ganhem outra dimensão", diz Martins.
Aos manuscritos originais e
às reproduções são contrapostas projeções em vídeo de sementes e mudas do dragoeiro
-uma planta originária das Canárias que foi dissecada por
Vandelli em seus estudos. O catálogo é organizado em fichas
que podem ser manuseadas pelos visitantes. Em todos os ambientes se ouve uma trilha sonora permanente criada a partir de sons do Jardim Botânico.
Na mostra, uma obra do artista plástico Luiz Zerbini propõe uma reflexão da representação da natureza pela arte. "É
significativo que o Vandelli
nunca tenha vindo ao Brasil.
Ele imaginou o país pela representação, que é a matéria-prima de um artista", diz Martins.
De um lado, uma parede verde composta por plantas vivas.
Do outro, um quadro cuja textura resulta em um espelho de
baixa definição, "como se fosse
"pixelizado" e fora de foco, que
reflete ao mesmo tempo a natureza e o homem" explica Zerbini. "Antigamente, não existia
essa divisão entre cientistas e
artistas", diz.
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