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+ ciência
Vitória de companhia americana em prêmio de US$ 10 milhões foi apenas o primeiro passo na criação de uma grande indústria internacional de turismo no espaço
Um grande salto para o capital
Laura Rauch - 4.out.2004/Associated Press
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Richard Branson (esq.), Paul Allen e Burt Rutan acompanham pouso da SpaceShipOne no aeroporto de Mojave, EUA |
Victoria Griffith
Clive Cookson
do "Financial Times"
A nave SpaceShipOne pode ter vencido o Prêmio X,
de US$ 10 milhões, na semana passada. Mas Brian
Feeney, líder da companhia rival, The daVinci
Project, não está preocupado. Feeney acredita que
sua equipe tem uma vantagem sobre a Scaled Composites,
a companhia por trás da SpaceShipOne. "Nosso motor
pode lidar com um avião de passageiros de oito pessoas, e
eles estão planejando um de cinco", diz. "Porque podemos
diluir mais os custos, acho que podemos vender as passagens por menos."
Uma nova corrida espacial começou, e desta vez não tem
nada a ver com colocar bandeiras na Lua; é pelo dinheiro.
O anúncio, duas semanas atrás, do empreendedor britânico sir Richard Branson de que estava investindo US$ 100
milhões numa nova companhia, a Virgin Galactic, deu ao
turismo espacial uma cara mais séria. "A primeira operadora comercial de turismo espacial do mundo" terá uma
frota de cinco naves, baseadas na SpaceShipOne, e pretende "criar 3.000 astronautas" em cinco anos, após o vôo
inaugural, planejado para 2007.
O Congresso dos EUA está levando a perspectiva do turismo espacial tão a sério que aprovou novas regulamentações para a indústria, incluindo a exigência de alerta aos
passageiros de possíveis riscos de saúde.
A Administração Federal de Aviação dos EUA tem um escritório de transporte espacial comercial preparado para
licenciar naves particulares, e Burt Rutan, chefe da Scaled
Composites, diz que seus medos iniciais de que a burocracia de regulamentação fosse atrasar o turismo espacial foram afastados.
A chamada Copa Prêmio X, uma competição anual para
ver qual foguete privado pode ir mais alto e mais rápido,
está marcada para 2006, em outro sinal de que a indústria
está se desenvolvendo. Pelo menos três outras companhias, além da aliança Virgin/Scaled Composites, estão
para construir foguetes de passageiros viáveis nos próximos anos -XCor e Armadillo Aerospace, dos Estados
Unidos, e daVinci, do Canadá.
"A SpaceShipOne pode ter a liderança por algum tempo,
mas eles de modo nenhum terão um monopólio sobre vôo
espacial", diz John Hanks, da Fundação Fronteira Espacial, uma organização que promove a habitação humana
do espaço. Os chamados "espaçoportos" estão disputando para se tornar o ponto de partida das decolagens.
O espaçoporto de Mojave, em pleno deserto californiano, é a base de operações da turma da SpaceShipOne, mas
a Copa Prêmio X irá acontecer no Espaçoporto Regional
do Sudoeste, no Novo México, após a abertura de uma
concorrência e o estabelecimento de um acordo entre o
governo estadual e a Fundação Prêmio X, baseada em St.
Louis. Embora a Virgin vá começar a voar de Mojave, espera montar bases também na Flórida e então em localidades no Reino Unido, em Cingapura e na Austrália.
Passageiros nos primeiros vôos suborbitais terão apenas
cinco minutos de sensação de ausência de peso, a 130 km
de altitude -metade da altitude em que fica a Estação Espacial Internacional. Mesmo assim, será uma experiência
magnífica, promete Rutan, com um céu negro e visões da
Terra se estendendo no horizonte a 1.200 km de distância.
Mas esses são os equivalentes espaciais dos dias pioneiros da aviação, ocorridos no início do século 20. O grande
salto tecnológico vai ocorrer mesmo quando companhias
privadas atingirem vôo orbital. Então será um passo relativamente pequeno até hotéis espaciais. Sir Richard sonha
com uma base lunar da Virgin.
A tecnologia também poderia revolucionar o transporte
na Terra, tornando possível voar de Paris e Nova York, por
exemplo, em menos de uma hora. Robert Bigelow, o chefe
bilionário da Bigelow Aerospace e fundador da rede de
hotéis Budget Suites, criou um novo prêmio de US$ 50 milhões à primeira equipe capaz de atingir vôo orbital. Bigelow está procurando um meio de lançar seus leves "habitats" espaciais infláveis, com os quais ele pretende criar os
primeiros postos avançados civis no espaço. Engenheiros
da Nasa já declararam que acreditam que o design dos
módulos pode funcionar.
Bigelow imagina laboratórios espaciais e uma crescente
indústria cinematográfica no espaço. A Space Island, outra companhia, vê uma nova indústria de transmissão de
esportes em regime de "pay-per-view" e diz que planeja
enviar equipes para jogos de futebol americano ou outros
esportes no espaço o mais cedo possível.
Ainda assim, muitos obstáculos ainda precisarão ser superados no turismo espacial. Os fabricantes terão de atingir os requerimentos governamentais de segurança. O impacto ao ambiente ainda não está claro, e os requerimentos de treinamento antes de um vôo podem reduzir o número de potenciais turistas.
O preço também é incerto. A Virgin irá cobrar US$ 190
mil por uma passagem suborbital. A Space Adventures,
agência de viagens espaciais, já fez mais de cem reservas
para vôo suborbital a US$ 100 mil por assento, em naves
não especificadas. Considerando que Dennis Tito e Mark
Shuttleworth, os dois únicos turistas espaciais até hoje, pagaram US$ 20 milhões cada, via Space Adventures, por
uma carona na nave russa Soyuz rumo à Estação Espacial
Internacional, as novas tarifas parecem uma pechincha.
Quais são os riscos?
O risco imediato é, claro, o de que
a nave sofra um acidente. Burt Rutan, projetista da SpaceShipOne, diz que de modo nenhum os vôos de turismo
espacial poderão ser mais seguros do que cruzar o Atlântico num Boeing 747. Mas eles serão mais seguros do que
voar com a Nasa, a agência espacial americana. "Estamos
buscando ser pelo menos tão seguros quanto as primeiras
companhias aéreas", diz.
O risco menos óbvio é que, mesmo em vôos bem-sucedidos, a saúde dos passageiros possa ser prejudicada pela
força gravitacional experimentada conforme a nave acelera, pelos níveis de radiação, consideravelmente mais altos
do que no solo, e pela ausência de peso.
Para vôos suborbitais curtos, os riscos de saúde são toleráveis -e os passageiros não precisarão ser jovens ou sarados. Rutan espera levar seu pai, de 87 anos, até lá em cima. Mas se o turismo chegar a vôos orbitais mais longos,
ou hotéis espaciais, a saúde se tornará uma questão mais
séria. Possíveis conseqüências de vôo espacial prolongado
incluem danos ao sistema imunológico, enfraquecimento
ósseo e perturbações psicológicas.
Quem quer subir?
A mais detalhada pesquisa de mercado já feita até agora, conduzida pela Futron, uma consultora tecnológica americana, mostra que há demanda
potencial suficiente nos EUA para sustentar uma indústria
de turismo espacial substancial.
O estudo da Futron foi baseado numa pesquisa da
Zogby International, que avaliou o nível de interesse e a
disponibilidade de pagar por vôos espaciais entre as pessoas que pudessem bancá-los.
O mercado geral de turismo espacial poderia gerar receitas da ordem de US$ 1 bilhão por ano em 2021, concluiu a
Futron. Vôos suborbitais gerariam a maior demanda, com
o potencial para 15 mil passageiros e receita de até US$ 700
milhões em 2021. Até lá, os vôos até a órbita teriam cerca
de 60 passageiros anuais e receita de US$ 300 milhões.
As projeções da Virgin Galactic são de que transportará
3.000 passageiros suborbitais em cinco anos, a partir de
2007. Isso poderia dar à companhia até US$ 500 milhões
em lucros, que, segundo sir Richard Branson, seriam reinvestidos na criação da geração seguinte de naves espaciais.
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