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Diretor do Cern diz querer acordo com Brasil para ampliar parceria científica
DE GENEBRA
Uma nova era no estudo da
física teve início ontem, garante Robert Aymar, diretor-geral
do Centro de Física Nuclear
Europeu (Cern), que abriga o
superacelerador de partículas
LHC. Em conversa com a Folha, ele disse ser impossível
prever como o experimento
mudará a ciência. Mas aposta
que ele fornecerá respostas não
só às perguntas que são feitas
há décadas, mas àquelas que
ainda não foram feitas.
FOLHA - Alguns temem que o LHC
irá criar mais perguntas novas do
que fornecer respostas às questões
antigas da física. O que acha disso?
AYMAR - Pelo contrário. Acho
que o LHC vai responder a perguntas que nem sequer fizemos. Este projeto é único porque com ele iremos explicar
coisas que sabemos existir, como a matéria escura. Mas temos muitos modelos que são
contraditórios e eles serão testados aqui. A pesquisa científica não serve só para confirmar
o que já sabemos, mas para fazer novas descobertas.
FOLHA - O sr. disse que hoje [ontem] começa uma nova era na física.
É possível antever para onde ela levará a ciência?
AYMAR - Está tudo aberto. Pode ser que os resultados mostrem que há no mundo dois tipos de partículas, as que conhecemos hoje e as que chamamos
de supersimétricas. E que o primeiro tipo é o das partículas
que existiam no início do Universo e o segundo as que formam a matéria escura. Se for isso, e as partículas supersimétricas existirem, será possível
convergir as quatro forças, que
serão unificadas.
FOLHA - O Brasil ganharia se entrasse como país associado do Cern?
AYMAR - Nossa cooperação
com alguns cientistas do Brasil
é antiga, mas nos últimos três
anos ocorreu uma mudança
quantitativa. A Comissão Européia lançou um programa para
ajudar cientistas da América
Latina a ficarem no Cern de
três a seis meses. Isso permitiu
que a conexão se fortalecesse.
Minha esperança é de que esse
programa, que termina no ano
que vem, seja substituído por
um acordo direto com o governo brasileiro.
FOLHA - Alguns físicos brasileiros
consideram que o custo da associação seria melhor investido em pesquisa no país. Qual a sua opinião?
AYMAR - Para haver progresso
na pesquisa e colher seus frutos
é preciso tempo e continuidade. A condição de membro associado é algo bastante livre e
as contribuições variam. O primeiro passo é ter os cientistas a
bordo, o que já acontece hoje.
Se o Brasil quiser continuar essa aproximação para se tornar
membro associado, teremos o
maior interesse em ajudar. Mas
é um processo gradual.
(MN)
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