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Grupo cria material para invisibilidade
Laboratório liderado por físico chinês projeta estrutura de liga de metais capaz de desviar a trajetória da luz "para trás"
Limitações técnicas ainda impedem a produção em grande escala; primeira aplicação do material deve ser em supermicroscópio
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
Quando a personagem Mulher Maravilha apareceu em gibis pela primeira vez pilotando
um avião invisível, em 1942, a
tecnologia para anular a imagem de um objeto ainda era algo impensável. Um estudo publicado ontem, porém, mostra
que a tarefa já é possível em pequena escala. Construir aquela
aeronave -que saiu dos quadrinhos para se tornar o sonho
dos militares- pode ser agora
só uma questão de tempo.
Projetando um material especial que é capaz de desviar
raios de luz de uma maneira
inusitada, um grupo de pesquisadores da Universidade da Califórnia liderado pelo chinês
Xiang Zhang obteve pela primeira vez um objeto capaz de
dobrar a luminosidade "para
trás".
Essa propriedade, chamada
pelos físicos de refração negativa, não existe em nenhum tipo
de material comum, e para
criar algo assim foi preciso
construir uma rede de liga metálica com estrutura precisa na
escala de nanômetros, ou milionésimos de milímetro.
"Nós fizemos mesmo o primeiro objeto tridimensional
com refração negativa para luz
visível, mas não é muito grande", disse Zhang à Folha, em
referência a uma grade de poucos nanômetros produzida em
seu laboratório e descrita em
estudo na revista "Nature".
A refração negativa já havia
sido atingida em outros experimentos, mas apenas para outros tipos de radiação que não
se aproximam muito da luz, como as microondas. Tanto a luz
quanto as microondas são
compostas de ondas eletromagnéticas. Fazer materiais
para manipular a luz, porém, é
muito mais difícil, porque o
comprimento das ondas visíveis ao olho humano é bem menor que o das microondas.
Mas o avanço da nanotecnologia parece ter dado conta do
recado. O novo material, porém, ainda está um bocado distante de poder servir como matéria-prima para um avião invisível. É caro, trabalhoso, frágil,
impraticável para grande escala e, por enquanto, funciona só
para luz vermelha. Mas nada
disso desanima Zhang. "A tecnologia está aí", diz. "Agora é
questão de as pessoas quererem despender mais esforço e
dinheiro para produzir algo de
um tamanho grande."
Antes de os militares realizarem seu sonho de produzir
aviões invisíveis, porém, os materiais com refração negativa
devem ganhar uso em aplicações científicas, como na produção de supermicroscópios.
"Se você usa um material natural, como um vidro, para fazer lentes, há um limite para a
resolução da imagem que se
quer obter, e esse limite é da
ordem do comprimento da onda de luz", explica Zhang. Por
essa razão, os microscópios ópticos, que são práticos para biologia, ainda não conseguem lidar bem com imagens menores
que 700 nanômetros -o comprimento da onda de luz vermelha. A expectativa é que o
novo material possa resolver
esse problema.
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