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Grupo fará campanha para esclarecer uso de cobaias
Cientistas planejam filmes para explicar a importância de pesquisa com animais
Iniciativa vai se contrapor a atividades de ONGs que confundem o público, diz pesquisador; discussão foi levada à reunião da SBPC
AFRA BALAZINA
ENVIADA ESPECIAL A CAMPINAS
No cinema, antes de começar
o filme, uma propaganda falará
da importância e mostrará os
usos práticos da experimentação animal, como o teste para
garantir a segurança da vacina
de febre amarela antes de ser
aplicada nas pessoas.
Essa foi a proposta anunciada na 60ª reunião anual da
SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), em
Campinas, para conscientizar o
público sobre a importância do
uso de cobaias. O Ministério da
Ciência e Tecnologia sinalizou
com a liberação de recursos e os
cientistas já estão em negociação com redes de cinema e
emissoras de televisão.
A preocupação de cientistas
em explicar como e para quê é
feita a experimentação animal
se acentuou após a proposição
de leis que tentam proibi-la, em
cidades como Rio de Janeiro e
Florianópolis. Pesquisadores
esperam que a lei Arouca, que
regulamenta a pesquisa com
cobaias e permite seu uso controlado, seja aprovada pelo Senado e entre em vigor, tornando as leis municipais nulas. Os
protestos de ativistas de direitos dos animais, porém, poderão continuar a despeito da lei.
O responsável pelo projeto
de criar anúncios de conscientização, Marcelo Morales, presidente da Sociedade Brasileira
de Biofísica, diz que o valor para produzir uma campanha nacional seria de R$ 1 milhão.
"É uma ação de utilidade pública", diz. Segundo ele, o projeto seria uma reação a ativistas
anticobaias que "confundem" o
público. "Há campanhas de
ONGs muito bem articuladas,
com direito a filmes não educativos, que confundem experimentação animal -que usa ética- com maus tratos."
O projeto de Morales tem
apoio da Federação de Sociedades de Biologia Experimental.
O tema dos testes em animais ganhou destaque neste
ano na reunião da SBPC -é um
dos núcleos do encontro e conta com duas conferências, quatro mesas-redondas (sobre
avanços tecnológicos, modelos
alternativos, ética e legalização
do uso de animais em laboratórios) e um fórum dos comitês
de ética de universidades e institutos de pesquisa.
Esse foi, até agora, o assunto
mais polêmico da reunião. Numa conferência ontem de manhã, um grupo fez um pequeno
protesto e entregou folhetos
aos participantes. Os manifestantes escreveram no chão "fim
dos testes em animais" e levaram ao auditório uma faixa com
palavras de ordem.
No panfleto, o grupo diz que
"a experimentação animal é diretamente responsável pelo aumento do câncer, doenças do
coração, defeitos físicos, Aids".
E fala que o usod de "animais
artificialmente doentes é o de
uma informação não aplicável
aos seres humanos e, sendo assim, tragicamente enganador".
O mestrando em antropologia Daniel Ramiro, 26, e o doutorando em antropologia Felipe Velden, 30, participaram do
protesto. Ramiro é adepto do
"veganismo" -não consome
nenhum produto de origem
animal. Parou de tomar cerveja
porque as empresas patrocinam rodeios. Nenhum dos dois
acredita que os novos medicamentos precisem ter sua segurança testada em animais antes
de serem dados a humanos.
A coordenadora dos eventos
sobre o tema na SBPC, Regina
Markus, é presidente da Sociedade Brasileira de Farmacologia e Terapêutica Experimental. Ela defende o uso de cobaias supervisionado por comitês de ética e considera positivas as manifestações contrárias, pois elas reforçam a necessidade de a lei Arouca discilpinar a prática de pesquisa.
"Nós tentamos há muito
tempo ter um marco legal. Foi
na realidade a contundência, o
contraponto, que tornou pública a necessidade de um marco
legal", disse. "Vamos aproveitar
a existência de opiniões diversas para criar o novo."
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