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Proteção dos mares é mínima no Brasil
Greenpeace inicia campanha em defesa dos oceanos no país; somente 0,4% dos mares estão em reservas federais
Para ministro, meta ideal de
proteção é 10%; para ONG,
quatro vezes isso; 80% dos
animais marinhos sofrem
com o excesso de pesca
AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao comer cação, badejo e camarão-sete-barbas, os brasileiros estão, sem saber, consumindo animais aquáticos
ameaçados de extinção ou que
sofrem com o excesso de pesca
no Brasil. De acordo com o governo federal, 80% dos recursos explorados pela pesca marinha sofrem com sobrepesca,
estão ameaçados ou em processo de recuperação.
Apesar disso, somente 0,4%
dos mares brasileiros são protegidos em unidades de conservação federais. Incluindo as reservas estaduais, a porcentagem sobe para 0,8%. A realidade internacional não é muito
diferente: há cerca de 1% de
mares protegidos no globo.
Em vista disso, o Greenpeace
inicia na próxima semana uma
campanha para proteger os
oceanos no país. A entidade defende que as áreas protegidas
subam para 40% no mundo e
que o Brasil faça a sua parte.
Marcelo Furtado, diretor-executivo do Greenpeace, afirma que a ONG pressionará pela
criação de uma Política Nacional de Oceanos que priorize a
proteção de áreas marinhas e o
combate à perda de biodiversidade. Para ele, a pesca predatória pode ser comparada ao desmatamento. E, assim como em
relação à madeira, diz que é
preciso saber a quantidade de
peixes que podem ser retirados
e em que época.
O Ministério do Meio Ambiente reconhece o problema.
"As áreas marinhas estão entre
as mais ameaçadas e as menos
protegidas, então é uma prioridade grande. Há cada vez mais
gente no litoral, mais navegação, mais pesca predatória. É
razoável que tenhamos uma
meta a ser alcançada", disse à
Folha o ministro Carlos Minc
(Meio Ambiente).
Mas a meta do ministro é
bem mais modesta que a da
ONG: ele considera ideal ampliar a proteção para 10% dos
mares -o que deve levar mais
de uma gestão para ocorrer. Para isso, podem ser usados recursos de compensação por dano ambiental. Há cerca de R$ 500 milhões que podem ser
aplicados em proteção de áreas
em terra e no mar.
Plantar peixe
O ministro ressalta, porém,
que não adianta apenas implantar novas áreas -é necessário dar estrutura e pessoal às
que já existem. E afirma que, se
o país quer aumentar a produção de peixe, não pode contar
só com o oceano. Deve investir
mais em "fazendas aquáticas" e
piscicultura, por exemplo.
O Ministério da Pesca concorda que as áreas protegidas
são importante ferramenta para garantir a recuperação dos
ecossistemas marinhos e manutenção dos estoques pesqueiros. No entanto, considera
que "a implantação de áreas de
exclusão de pesca tem rebate
importante nas atividades dos
pescadores artesanais". Por isso, defende que a implantação
seja discutida amplamente.
Exemplo
Na próxima terça, o Greenpeace lançará um vídeo e um
relatório sobre o panorama dos
mares brasileiros. Para compor
o material, foram ouvidos integrantes do governo e pesquisadores de universidades.
Além de apontar os desafios,
o Greenpeace ressalta como
positiva a idéia do governo de
São Paulo, anunciada em abril,
de criar três grandes áreas de
proteção marinhas no Estado.
Essas regiões ficarão protegidas da pesca predatória com
barcos industriais.
"É uma iniciativa importante
que pode criar precedente. A
Bahia, por exemplo, não está
batendo o pé pela proteção [do
banco de corais] de Abrolhos",
disse Furtado.
A medida, porém, assustou
pescadores. Segundo o secretário estadual Xico Graziano
(Meio Ambiente), "houve uma
reação muito forte porque as
colônias de pescadores acharam que ia ser proibido todo tipo de pesca". Para contornar a
polêmica, foi feita uma nova
versão do decreto.
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