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TRAGÉDIA EM ALCÂNTARA
Segurança desacelera plano de foguete
VLS-1 passou por revisão de projeto após acidente que matou 21 técnicos em 2003; motor terá teste em setembro
Lançamento parcial deve
acontecer em 2011 e vôo
completo, apenas em 2012;
ex-ministro prometeu que
VLS voaria até o ano de 2006
IAE/CTA/Divulgação
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Propulsor do VLS que passou por uma revisão de projeto; dispositivo vai ser testado em São José dos Campos em setembro
RAFAEL GARCIA
ENVIADO ESPECIAL A SÃO JOSÉ DOS
CAMPOS
A cultura de segurança que se
instaurou no programa do foguete brasileiro VLS (Veículo
Lançador de Satélites) após o
acidente que matou 21 pessoas
em 22 de agosto de 2003 deixou os trabalhos mais lentos. O
cronograma apresentado pelo
IAE (Instituto de Aeronáutica e
Espaço) prevê agora que um
lançamento completo possa
ocorrer só em 2012, após o
mandato do presidente Luiz
Inácio Lula da Silva.
Em 2010, o foguete já estará
em sua plataforma no Centro
de Lançamento de Alcântara
(MA), mas não será lançado.
"Vai ser montado com todos os
sistemas elétricos, já na configuração da interface do foguete
com a torre, para tudo ser retestado sem ele estar com nenhuma carga explosiva", diz o
coronel-engenheiro Francisco
Pantoja, novo diretor do IAE.
"Essa mudança dá mais segurança, mas você tem que ter
mais tempo para fazer as coisas." O combustível inflamável
do VLS, diz, deve ser colocado
no veículo só em 2011, e este
ano não ocorrerá lançamento
com trajetória completa do foguete. "Ele não vai voar como
teria voado na concepção anterior", diz Pantoja, explicando
que o foguete tem propulsores
que funcionam em quatro estágios diferentes até entrar em
órbita. "Em 2011, faríamos um
teste tendo só o primeiro estágio real", afirma.
Se tudo der certo, em 2012 o
VLS já poderá subir carregando
um satélite experimental. Depois disso, já estaria qualificado
para colocar um satélite real
em órbita. Mas o cronograma já
não é tão rígido.
"Se vamos colocar esse foguete pronto para ser testado é
porque estamos admitindo que
um novo conhecimento sobre
esse sistema nós vamos obter",
diz o coronel. "Eu posso perceber que alguma coisa não está
boa. Aí, teremos de melhorar. É
para isso que fazemos o teste.
Não é só uma coisa pró-forma."
Essa postura pública de
maior cautela aparentemente é
uma qualidade nova no programa espacial. Um mês após o
acidente de 2003, o então ministro da Ciência e Tecnologia,
Roberto Amaral, ainda prometia que o VLS voaria até 2006,
antes de acabar o primeiro
mandato de Lula. Não voou.
O presidente da República
poderá ainda estar no cargo
quando assistir ao lançamento
de um satélite, mas não com
um foguete brasileiro. Amaral,
que hoje dirige a empresa aeroespacial binacional que a
Ucrânia montou com o Brasil,
promete agora lançar o modelo
ucraniano Cyclone-4 desde Alcântara até 2010. Quem deve
faturar sobre o brasileiro VLS-1
é o próximo governo.
A salvo dos raios
Engenheiros estão trabalhando nesta semana nos preparativos para o teste de um
dos propulsores do foguete. Será o primeiro depois de ele ter
passado por uma revisão de
projeto do sistema elétrico,
apontado como uma possível
causa do acidente com o modelo anterior. Numa operação
que exige planejamento cuidadoso, um dos motores do foguete será acionado -preso a uma
bancada, para não sair voando- e filmado para avaliação.
O teste deveria ter sido feito
no começo deste mês, em uma
instalação do CTA (Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial) em São José dos Campos,
mas foi adiado porque o local tinha problemas. "Chegamos lá e
vimos que o sistema de proteção contra descargas atmosféricas [raios] não estava conforme a norma", diz Pantoja.
A operação deve ocorrer agora até a segunda quinzena de
setembro. "Obviamente, isso
tem um custo, que é o de alongar o prazo do ensaio, e há um
desgaste, porque prometemos
para a sociedade fazer isso naquele momento", diz o coronel.
Segundo ele, porém, a decisão
foi acertada pois, naquele fim
de semana, choveu na cidade e
houve raios e trovões. "É melhor ter o desgaste de não realizar um ensaio no prazo do que
correr risco desnecessário."
Pantoja afirma que o IEA
sempre buscou esse rigor de segurança, não apenas como reação ao acidente com o VLS em
2003 às vésperas do lançamento. O relatório da comissão externa que avaliou o desastre na
época, porém, mostrou que havia um ambiente de descuido
na torre do foguete. Segundo o
documento, era permitido que
"tarefas de risco fossem realizadas juntamente com outras
tarefas" e que CTA e IAE tinham "uma cultura de segurança pouco sedimentada e degradada ao longo dos anos".
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