|
Índice
Erupções submarinas causaram megaextinção
Há 93 milhões de anos, vulcões do Caribe aniquilaram parte da vida oceânica
Cientistas sabiam do sumiço em massa dos organismos, mas só agora conseguiram relacionar o fenômeno com o vulcanismo oceânico
Steven Turgeon
|
|
As rochas estudadas saíram da pedreira Contessa (Itália)
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
O Caribe é um dos destinos
turísticos mais procurados por
seus mares de águas cristalinas
e seus recifes de corais cercados de peixes. A Terra, porém,
pagou um preço caro para ter
essa paisagem: há 93 milhões
de anos, as erupções de vulcões
submarinos que formaram as
ilhas caribenhas causaram uma
extinção em massa de vida.
Essa é a conclusão de um estudo dos geólogos Steven Turgeon e Robert Creaser, da Universidade de Alberta (Canadá),
publicado na revista "Nature".
Analisando a composição de
rochas que se formaram naquela época, os cientistas descobriram que elas estavam cheias de
um tipo especial de ósmio, metal expelido pelas erupções e
espalhado pelos mares.
Cientistas já sabiam sobre a
extinção em massa, mas ainda
não tinham conseguido algo
que apontasse sua correlação
com os vulcões submarinos.
O evento de extinção que eles
descrevem foi o segundo entre
os grandes do Cretáceo -período que se estendeu de 145 milhões de anos atrás a 65 milhões de anos atrás. Uma infinidade de seres vivos que dominavam o leito marinho na época desapareceu, de organismos
unicelulares chamados foraminíferos até grandes moluscos.
A proporção de elementos
químicos em diferentes camadas de rocha, tudo indica, era a
pista que faltava. Os dois descobriram, a partir de escavações
feitas na Itália e na América do
Sul, que as formações geológicas datadas da época da formação do Caribe estavam com
uma proporção maior do tipo
de ósmio expelido por vulcões.
Não foi o metal, porém, que
matou os animais, uma vez que
a proporção de ósmio na composição do oceano é pequena.
Para os biólogos, ele serve apenas como um marcador.
Um dos culpados pela megaextinção do Cretáceo foi um
fenômeno que conhecemos
bem: o aquecimento global.
Vulcões submarinos expelem
um bocado de gases do efeito
estufa, que acabam vazando para a atmosfera. Não são como
os vulcões terrestres, que na
verdade esfriam a Terra ao pulverizarem o ar de poeira que
bloqueia o Sol, porque embaixo
d'água a poeira é dissolvida.
Com a atmosfera superaquecida, então, as camadas mais
superficiais do oceano se esquentaram também. Por um
efeito de choque térmico, as
correntes que levavam oxigênio ao fundo cessaram.
Mas há uma segunda hipótese para o que aconteceu. Os vulcões submarinos do Caribe
também expeliram um bocado
de nutrientes metálicos que
serviam de alimento para o
plâncton (pequenos organismos marinhos) na superfície.
Essa superpopulação de plâncton, quando morria, se decompunha e roubava oxigênio da
água à medida que afundava.
Resultado, sobrava pouco oxigênio para os animais do fundo.
Que hipótese é correta, então? "Provavelmente é uma
combinação das duas coisas",
disse Turgeon à Folha. "Temos
bastante certeza de que a circulação oceânica estava lenta na
época e que os oceanos estavam estratificados [divididos
em camada fria e quente]. Mas
também parece que o magmatismo liberou grandes quantidades de nutrientes."
Legado petrolífero
Hoje, claro, ninguém chora
pelos moluscos e protistas que
se extinguiram há 93 milhões
de anos. A megaextinção, aliás,
deixou um legado muito apreciado pelos humanos: reservas
de petróleo formadas a partir
dos animais mortos que se depositaram no leito oceânico.
O Cretáceo foi uma época diferente daquela que vivemos
hoje, dizem os cientistas, mas é
justamente a diferença que pode arejar idéias novas.
"Esse trabalho pode fornecer
lições valiosas sobre como a
Terra reage a perturbações como essas que está experimentando agora", diz o geólogo Timothy Bralower, da Universidade do Estado da Pensilvânia,
em comentário ao estudo publicado na "Nature".
Índice
|