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Vítimas da gripe de 1918 ainda são imunes ao vírus
Descoberta pode ajudar na produção de anticorpos contra eventual pandemia
Anticorpos tirados do sangue de pessoas expostas
à gripe espanhola foram
capazes de combater o
parasita em camundongos
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
O fôlego do sistema de defesa
humano contra o vírus da gripe
dura, pelo menos, 90 anos. A
constatação vem de um estudo
realizado nos Estados Unidos.
Em artigo no site da revista
científica "Nature", os cientistas demonstram como foi possível frear, em camundongos,
uma infecção causada pelo vírus da gripe espanhola de 1918.
Os microrganismos injetados nos animais foram reconstruídos geneticamente.
Para construir a barreira
imunológica nos roedores, o
grupo, liderado por James
Crowne, da Universidade Vanderbilt, usou anticorpos retirados de 32 pessoas que viveram
naquela época. Todos os participantes da pesquisa, que tinham entre 91 e 100 anos de
idade quando o estudo foi feito,
relataram que perderam parentes na pandemia.
"Esse estudo é seguramente
um dos poucos que puderam
demonstrar a manutenção da
nossa resposta imunológica
após tanto tempo", disse à Folha o infectologista Esper Kallás, pesquisador da Unifesp.
Os americanos isolaram os
linfócitos B do sangue dos idosos. São essas células que produzem os anticorpos.
Quando o vírus da gripe de
1918 entrou nos roedores, ele
logo foi detectado e imobilizado. O que, para os autores da
pesquisa, mostra que a resposta
imunológica contra aquele invasor ainda estava ativa.
"O risco de termos uma nova
epidemia como aquela é pequeno. Temos a capacidade de produzir vacinas eficazes contra o
H1N1 [o vírus de 1918]", diz Kallás. Segundo o infectologista
brasileiro, essa linhagem consta das vacinas que são aplicadas
no Brasil todos os anos.
A gripe espanhola, que está
completando 90 anos agora, segundo o livro "Influenza, a Medicina Enferma", da historiadora Liane Bertucci, também
causou um pandemônio na cidade de São Paulo.
Aproximadamente um terço
dos 528.295 habitantes da capital paulista foram infectados.
Destes, 5.000 morreram. O número de coveiros teve de ser
quadruplicado na cidade.
Mas, se o risco de uma nova
pandemia de gripe espanhola é
pequeno, o mesmo não pode
ser dito em relação ao vírus
H5N1, outro tipo de influenza,
a gripe aviária. E aqui o novo estudo pode ajudar a medicina.
"Nós sabemos, pelos nossos
estudos de biologia molecular,
que o vírus de 1918 era um vírus
aviário", disse Crowe.
Portanto, segundo o pesquisador, as lições aprendidas agora poderão ser úteis no futuro.
"É possível ter uma noção
maior do que esperar, em termos de respostas imunológicas, no caso de surgir uma outra
epidemia de um vírus aviário."
Sem uma memória imunológica contra o novo inimigo, o
sistema humano pode demorar
pelo menos alguns meses para
conhecer o novo invasor.
O cenário hoje seria mais
dramático, porque as pessoas
costumam viajar mais pelo
mundo, o que poderia dar grande velocidade à epidemia.
Porém, segundo Crowe, já é
possível imaginar a construção
de anticorpos potentes contra
o novo vírus a partir dos resultados obtidos por sua equipe.
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