São Paulo, quinta-feira, 27 de outubro de 2011

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Dentes indicam que superdinossauros faziam migrações

Composição do esmalte deriva de elementos no solo por onde herbívoros pescoçudos passavam nos EUA

Cientistas especulam se comportamento dos bichos é resposta a escassez de recursos e mudanças climáticas

MARCO VARELLA

COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Assim como muitos mamíferos, os dinossauros saurópodes, maiores vertebrados terrestres que já existiram, também migravam todos os anos, provavelmente em busca de ambientes melhores.
A descoberta, inédita por identificar deslocamentos de longa distância em pleno período Jurássico (há 150 milhões de anos), foi publicada na versão eletrônica da revista científica "Nature" por cientistas americanos da Faculdade do Colorado, liderados por Henry Fricke.
Como comportamento é uma coisa que não se fossiliza, os paleontólogos precisam usar métodos indiretos para chegar a uma conclusão como a do novo estudo.
As técnicas vão desde inferências mais convencionais, a partir da própria forma dos ossos, até análises refinadas da composição química dos fósseis e do solo onde estão.
"Acredito que a inovação metodológica, como demonstrado por essa pesquisa, é o caminho para conseguirmos respostas apropriadas a questões significativas sobre o comportamento dos dinos", disse à Folha o palentólogo Reinaldo José Bertini, da Unesp de Rio Claro.
A chave para o resultado foi determinar os níveis de oxigênio-18 (um isótopo, ou seja, uma variante do oxigênio) nos dentes dos dinos pescoçudos e herbívoros do gênero Camarasaurus.
Esses níveis foram comparados com a proporção de oxigênio-18 no solo em queos animais viviam. Com isso, foi possível saber se, durante a formação dos dentes, os animais ficavam na mesma região ou migravam.

COMPROVAÇÃO QUÍMICA
A quantidade do isótopo encontrada no solo varia conforme a aridez e a altitude do local, entre outros fatores.
A região onde foram achados os fósseis, chamada bacia sedimentar de Morrison, no oeste americano, é rica em oxigênio-18. Trata-se de uma planície fluvial sujeita a inundações e períodos de seca.
Uma alta quantidade do isótopo, incorporado via água e vegetais consumidos pelos bichos, foi achada no esmalte da base da coroa dos 32 dentes de diferentes animais analisados.
Isso sugere que, durante o início do período de formação dentária, eles se encontravam nessa área.
Entretanto, quanto mais perto da extremidade da coroa dos dentes, menor era a taxa dos isótopos. Isso indica que os animais estavam se alimentando em outro local.
Na região vulcânica e montanhosa a oeste da bacia, os níveis do isótopo são bem menores, correspondendo às taxas dessa parte do dente, o que indica a migração para áreas elevadas.
A distância entre as duas regiões é de 300 km, e o ciclo de formação dos dentes inferido pelos cientistas vai de quatro a cinco meses.
Como os dentes foram encontrado na bacia de Morrison, os dinossauros fizeram o trajeto de ida e volta nesse período, o que dá uma velocidade média de 4 km por dia.
"Estamos tratando de um animal de porte razoável", diz Bertini, referindo-se aos Camarasaurus. "Fico imaginando aqueles animais grandalhões, movendo-se lentamente, em grandes grupos, buscando condições ecológicas melhores."
Ainda não se sabe se a migração é uma característica da espécie ou uma reação às condições de vida na região.


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