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Peixe "blindado" inspira armadura de soldados
Estudos feitos no MIT tentam desvendar segredos de sistema de defesa natural
Para cientistas, desenho de "couraça" analisada agora poderá ser aplicado em equipamentos que serão usados pelo ser humano
DA REUTERS
Os aquaristas que criam o
Polypterus senegalus, um tipo
de peixe exótico, que existe há
96 milhões de anos e vem da
África, já têm mais uma história para contar.
O peixe, que parece com uma
enguia pré-histórica, apesar de
ser distante dela na classificação dos especialistas, é motivo
de estudo no MIT (Instituto de
Tecnologia de Massachusetts).
A missão da equipe de cientistas, mais especificamente, é
desenvolver armaduras de
guerra cada vez mais resistentes. "O conhecimento básico é
que poderá nos levar a aprimorar o desenvolvimento de equipamentos tanto para soldados
quanto para veículos", justifica
Christine Ortiz, líder da pesquisa americana.
De acordo com os resultados
apresentados na edição de hoje
da revista "Nature Materials",
o peixe africano, que vive na
água doce, é uma grande inspiração para os técnicos.
Tudo por causa das suas resistentes escamas. Depois de
desmontarem, via técnicas nanotecnológicas, as estruturas
de proteção do Polypterus, os
cientistas já sabem boa parte
dos segredos da espécie.
Sem dúvida, por causa da
longevidade, ela tem uma história de sucesso contra os predadores dos rios africanos.
A armadura natural do peixe
estudado tem um desenho absolutamente eficiente para a
proteção, dizem os cientistas.
Os materiais, a geometria e a
espessura das escamas (algo ao
redor de 500 milionésimos de
metro), além da forma como
elas são dispostas e unidas em
camadas, é que tornam o sistema tão protetor.
"Certos princípios que nós
descrevemos agora poderão ser
aplicados em sistemas humanos", afirma Ortiz.
Mordida circular
Outro item que chamou a
atenção dos cientistas é a forma
com que a energia de uma mordida de um eventual predador,
por exemplo, é absorvida pela
armadura natural analisada.
Como cada uma das escamas
apresenta camadas com materiais diferentes também, esse
desenho, diz o estudo, impede
que a força de uma eventual
mordida viaje muito longe.
O que ocorre, mostraram as
análises, é que a força aplicada
pelo predador é obrigada a percorrer um círculo ao redor do
ponto atacado. Com isso, o estrago é menor. Ele não é propagado para outras partes do corpo do animal.
O gênero Polypterus ocupa
vários rios da África, como o
Nilo, o Niger e o Senegal. A espécie estudada no MIT não está entre as maiores do grupo.
Mesmo assim, ela pode chegar
a medir 50 cm de comprimento. Esse tipo de peixe é carnívoro, nas lagoas e beiras de rio
africanas ele come insetos,
crustáceos, moluscos, anfíbios
e outros peixes.
O sistema de defesa da espécie, lembra Oritz, surgiu há milhões de anos, quando a competição por espaço e alimento
nas águas africanas deveria ser
bastante grande.
"Lá atrás, existiam muitos
invertebrados que eram eficientes predadores", disse a
cientista. "Os euripterídeos,
por exemplo, eram artrópodes
gigantes e carnívoros que tinham várias estruturas anatômicas de ataque, como pinças e
garras, bastante preparadas para a predação."
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