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Algas podem gerar nova droga anti-HIV
Grupo do Rio isola desses organismos marinhos substâncias eficazes contra o vírus; testes em humanos devem começar em 2010
Três compostos de baixa
toxicidade poderão ser
usados para evitar contágio
em mulheres e para deter
replicação em infectados
DENISE MENCHEN
DA SUCURSAL DO RIO
Pesquisadores brasileiros
anunciaram ontem a descoberta de três substâncias oriundas
de algas marinhas que poderão
ser utilizadas na fabricação de
medicamentos para a prevenção e o controle da infecção pelo vírus da Aids. O imunologista
Luiz Roberto Castello Branco,
da Fiocruz, disse que os resultados dos testes preliminares
foram "muito promissores".
Os compostos, cujos nomes
são mantidos em segredo pela
equipe, já foram testados em
tecidos humanos e em camundongos. A previsão é que os testes em pacientes comecem em
2010. Se tudo der certo, os primeiros produtos chegarão ao
mercado a partir de 2014. A
idéia é criar um microbicida e
um anti-retroviral.
Os estudos são feitos pelo
Instituto Oswaldo Cruz - onde
Castello Branco dirige o Laboratório de Imunologia Clínica-
e contam com o apoio da FAP
(Fundação Ataulpho de Paiva)
e da UFF (Universidade Federal Fluminense). Seus primeiros resultados foram revelados
pela Folha em janeiro de 2007.
No total, foram analisados 22
compostos naturais obtidos a
partir de algas encontradas no
litoral brasileiro. As três substâncias selecionadas apresentaram eficácia contra o vírus e
baixa toxicidade. "Ainda não
conseguimos encontrar a dose
letal", disse a pesquisadora Izabel Paixão, da UFF. "Algumas
das algas são até comestíveis."
O objetivo inicial dos cientistas era criar um microbicida,
droga de uso vaginal para prevenir a contaminação pelo
HIV. Os bons resultados obtidos nos testes pré-clínicos, porém, motivaram a equipe a trabalhar também no desenvolvimento de um novo anti-retroviral, para tratamento de pacientes já infectados.
Prevenção
Ainda inexistente no mundo,
o microbicida ajudará a conter
o crescimento da Aids entre as
mulheres. Ao contrário do que
ocorre com o preservativo, elas
não precisarão da anuência do
parceiro para se proteger, pois
o produto poderá ser aplicado
antes da relação sexual e terá
eficácia por 12 horas.
"Muitas são contaminadas
por maridos promíscuos que
não aceitam o uso do preservativo. Com o microbicida, elas
terão autonomia para se proteger", disse o imunologista.
Ele ressalta, porém, que o
ideal seria combinar as duas
formas de proteção.
Já o anti-retroviral será útil
para pacientes que sofrerem
com efeitos colaterais ou que
desenvolverem resistência às
drogas atuais.
O medicamento não erradica
o vírus do organismo, mas contém sua replicação. Os estudos
preliminares mostraram que
uma das substâncias pesquisadas conseguiu inibir a replicação do HIV em 98%.
A equipe estima que, se confirmado, o desenvolvimento do
produto no Brasil resultará em
uma economia anual de R$ 50
milhões a R$ 100 milhões. Em
2008, o governo federal deve
gastar R$ 1 bilhão com a compra de anti-retrovirais.
Os testes clínicos serão realizados no Brasil e, principalmente, na África, em países
com alto índice de infecção. Para que os estudos sejam concluídos, porém, os pesquisadores dizem necessitar de cerca
de R$ 10 milhões.
Além dos testes clínicos, eles
precisam desenvolver meios de
sintetizar em laboratório as
substâncias estudadas, para diminuir o impacto ambiental.
Algumas algas utilizadas vieram do Atol das Rocas, com autorização do Ibama (órgão ambiental federal), e outras são do
litoral do Rio de Janeiro.
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