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Painel do clima prevê maior impacto, com mais incerteza

Relatório aponta mais danos do aquecimento global, mas vê falta de dados

Após falha em texto de 2007, IPCC adota maior rigor para projetar risco da mudança climática e exclui textos de ONGs

RAFAEL GARCIA DE SÃO PAULO

O novo relatório do IPCC (painel do clima da ONU) sobre impactos do aquecimento global traz um mapa muito mais amplo das possíveis consequências do fenômeno, mas menos certezas sobre o que efetivamente ocorrerá.

O documento, divulgado ontem à noite após um encontro em Yokohama, no Japão, trata de muito mais assuntos do que seu predecessor, de 2007, e avalia melhor alguns temas, como o efeito do clima na saúde humana e em conflitos violentos.

Projeções que tinham recebido grande destaque antes, porém --como o risco de as secas afetarem 1 bilhão de pessoas na África e 250 milhões na Ásia--, saíram do sumário para formuladores de políticas. Esse resumo não técnico do relatório tem seu texto definido por um grupo de cientistas e representantes de governos, e é o que de fato se definiu no Japão. Expressões categóricas no documento deram lugar a uma descrição que inclui uma gama maior de probabilidades.

"No AR4 [o relatório de 2007] algumas das afirmações sobre impactos biológicos às quais se atribuía maior certeza foram baseadas em um único estudo", disse à Folha, Chris Field, coordenador do sumário para formuladores de políticas, o resumo não técnico do relatório do grupo 2 do IPCC, que trata de impactos e de adaptações necessárias. "É claro que aquele era um bom estudo, mas no AR5 [o novo documento] nós tentamos não basear nenhuma conclusão muito importante em um único estudo."

AMAZÔNIA

Uma das afirmações para as quais o IPCC baixou o tom é a do risco de a Amazônia tornar-se uma savana sob influência da mudança climática. Esse possível impacto é listado no novo documento, mas agora aparece com rubrica de "baixa confiabilidade".

Isso não é necessariamente uma boa notícia para a floresta, diz José Marengo, climatologista do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais). Ele é o único autor representando o Brasil no sumário não técnico do IPCC no grupo de trabalho 2, que trata de impactos da mudança climática e adaptações.

"Isso quer dizer apenas que existe um número menor de artigos científicos indicando esse fenômeno", diz o cientista. "São bons artigos, de pesquisadores brasileiros e britânicos, mas o nível de confiança acabou sendo descrito como um pouco menor."

Segundo Chris Field, o sumário não sofreu grandes alterações a pedido de governos, pois tem de ser consistente com o relatório geral, na qual só os cientistas do IPCC podem opinar.

Uma das alterações no texto, porém, foi justamente uma demanda do governo brasileiro. O país reclamou de uma crítica que o relatório fazia sobre o risco de plantações para biocombustíveis afetarem a ecossistemas por meio do desmatamento. A frase sumiu do sumário.

ONGS ISOLADAS

Outra mudança no relatório foi o uso mais restrito de dados sem revisão científica formal. Em 2007, o IPCC usou uma previsão errada para o derretimento de geleiras do Himalaia, citada de uma publicação da ONG ambientalista WWF. Desta vez, textos de ONGs foram barrados.

"É uma coisa boa que tudo o que eles citem seja tão robusto quanto possível", diz Kaisa Kosonen, observadora do Greenpeace na reunião IPCC. "O que pode ser perdido, porém, são informação de comunidades locais, populações indígenas e outros grupos que não contam com artigos científicos revisados para relatar seus problemas."

Field reconhece que há escassez de dados sobre regiões pobres do planeta, mas diz que o IPCC não usará mais "ciência de baixo padrão".


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