Plantão Médico

Conhecendo o inimigo

A palavra "câncer" antigamente não fazia parte do vocabulário popular. Dizia-se "aquela doença terrível", e aos sussurros, como escreve o oncologista Siddhartha Mukherjee em "O Imperador de Todos os Males - Uma Biografia do Câncer" (Cia das Letras, 640 págs., R$ 54).

A obra, lançada recentemente com tradução de Berilo Vargas, foi laureada com o Prêmio Pulitzer, dos EUA, na categoria não ficção.

Em entrevista a Cláudia Collucci, na Folha, o autor disse ter escrito o livro em resposta à pergunta de uma paciente: "Preciso saber contra o que estou lutando".

A resposta, através da obra, é perfeita e completa. Revela uma doença conhecida desde Hipócrates, mas ignorada durante séculos.

Explica desde o porquê de a epidemia do câncer de estômago ter diminuído nos últimos anos, a origem detectada do câncer do testículo em meninos limpadores das chaminés inglesas no século passado, até o fato de o câncer hoje estar mais presente em nossas vidas pelo envelhecimento populacional.

E também mostra que a prevenção é a sua cura.

Na obra, surgem os vários tipos de câncer, suas causas e diferentes tratamentos.

O autor também trata do fascinante trajeto da introdução de um novo tratamento para a doença (à época com vozes discordantes), ao lado da cirurgia, hoje a rotina da quimioterapia.

Este trajeto corresponde desde às primeiras batalhas contra o mal usando substâncias fortemente citotóxicas em 1947 até as mais recentes dos dias atuais, isentas de muitos de seus anteriores inconvenientes.

As 634 páginas dessa biografia romanceada de uma doença asseguram a evolução científica de uma área médica que irá destronar brevemente esse imperador de (quase) todos os males.