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Marcelo Gleiser
A frágil Esfera Azul
Imagem clássica da Terra vista do espaço marcou transição entre exploração cósmica tripulada e robótica
a Sexta-feira passada, dia 7, foi o aniversário de 40 anos de uma foto histórica da Terra inteira, vista pela tripulação da Apollo 17. A foto, tirada de uma distância de 45 mil quilômetros, mostra o planeta em "fase cheia", isto é, com o Sol iluminando-o por trás da Lua, no arranjo Sol-Lua-Terra; para vermos a Lua cheia, o arranjo é invertido: Sol-Terra-Lua.
Vemos a África, parte da Antártida e muitas nuvens. Foi a última vez que humanos pisaram num mundo que não o nosso, a sexta missão Apollo a conseguir tal feito.
A foto, uma das mais reproduzidas da história, marca um momento de transição: por um lado, a percepção de nosso planeta como uma frágil esfera flutuando na vastidão cósmica deu grande força ao movimento ecológico nos anos 1970.
Por outro, a própria exploração do espaço também se transformou, já que tripulações humanas ficaram restritas a órbitas "baixas", isto é, próximas da órbita da Terra. Esse é o caso da Estação Espacial Internacional, por exemplo.
Outros mundos, como Marte e os outros planetas e luas do Sistema Solar, passaram a ser explorados por máquinas, devido a avanços de tecnologia em robótica e computação. Estendemos nosso alcance ao espaço e aprendemos muito, mesmo que perdendo um pouco do lado heroico que sempre marca viagens ao desconhecido.
No início deste ano, comemorando os 40 anos da foto histórica, a Nasa lançou uma nova versão da Esfera Azul -compilada remotamente pelo satélite meteorológico Suomi NPP, no dia 4 de janeiro.
Desta vez, foi uma máquina, e não os olhos humanos, que controlou a câmera. E são muitas fotos retratando a Terra em hemisférios e ângulos diferentes. Na primeira semana desde seu lançamento no portal Flickr, a imagem -chamada de "Esfera Azul 2012" (a tradução literal é Bola de Gude Azul, mas fica horrível em português), foi vista por mais de 3 milhões de visitantes.
Do ponto de vista econômico, não há dúvida de que enviar robôs a Marte ou pelas vizinhanças de Saturno é bem mais barato e "safo". Do ponto de vista científico, que não pode ser separado da questão econômica -missões muito caras são, obviamente, muito mais raras-, o ganho tem sido enorme.
É o que vemos com a incrível sonda Opportunity, que continua explorando a superfície marciana desde 2004, mesmo que projetada para fazê-lo por apenas 90 dias; e mais recentemente com sua "prima" maior, o jipe-robô Curiosity.
Segundo a Nasa, o Curiosity acaba de completar sua primeira análise da composição química do solo marciano, encontrando uma rica variedade de compostos, incluindo alguns com carbono. Mas nenhum sinal de vida; não se sabe se esse carbono é nativo de Marte ou se veio de meteoritos ou cometas.
Apesar dos avanços, nada se compara à presença humana; o que a sonda faz, com grande lentidão, humanos poderiam fazer rapidamente. Se quisermos manter vivo o espírito da exploração, temos de continuar enviando humanos a outros mundos. Talvez a solução esteja em colaborações internacionais ou na iniciativa privada. Mesmo com sérios riscos, tenho certeza de que não faltariam candidatos. Grandes exploradores querem voltar, mas sabem que nem sempre voltam.