São Paulo, quinta-feira, 01 de setembro de 2011
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FOGO ALTO A visão de quem cozinha LOURDES HERNÁNDEZ Pátria Minha
No México, setembro também é o mês da festa nacional. Se a tequila fizesse aniversário ou tivesse seu próprio mês de celebrações, esse aniversário seria no dia 15 de setembro e o mês seria este, setembro. E, se tivesse uma cor, alguns pensariam no azul silente das montanhas tequileras cobertas dos agaves; mas outros apostaríamos em sua transparência, sua nudez úmida de coisa letal e atraente. Dizem que os povos são idênticos àquilo em que acreditam, à sua própria constelação de crenças que configuram sua particular visão do mundo. Para nós é só pensar em beber tequila que lembramos de música, bênção, comida caseira, confessionários, memória, inventário, maldição. A tequila sabe mais por velho que por diabo. Longa história a dela. Já inspirou livros de luxo, cadernos de jornais e revistas, poemas, mentiras, corridos (aquelas canções mexicanas que contam histórias de vidas desgraçadas e muitas vezes até surrealistas), canções arteiras. Aprendi a beber tequila nas festas setembrinas, a desfrutar o tilintar dos copos, a esperança de um futuro mais gentil. E hoje que o México até cogita não sair a celebrar e gritar nas praças sua triste alegria, peço, pelo menos, manter a mão tensa, definitiva para beber tequila, para surpreender o galope, por mar e céu, porque a tequila, ainda que seja uma bebida masculina, bem quente e viril, bebe-se numa égua bem tesuda. Nesse copinho longo que chamamos de "caballito" (cavalinho); segundo o poeta Efraín Huerta, é porque depois do quinto copo, começa-se a galopar sobre a égua Sete Léguas. "Porque saberás que o cavalo Sete Léguas (o cavalo que Pancho Villa mais estimava/quando ouvia o apito dos trens parava e relinchava) não era um cavalo, mas uma égua bem caliente, como digamos a afamada Valentina..." No México, no dia 16 de setembro, ninguém trabalha, ninguém dormiu na véspera. Porque a festa, qualquer festa, finalmente é e deve continuar sendo a categoria indestrutível de nossa civilização. LOURDES HERNÁNDEZ foi autora da coluna "La Cocinera Atrevida" em jornais mexicanos; hoje oferece jantares em casa, em São Paulo, apenas para convidados Texto Anterior: A gourmet - Alexandra Forbes: Não basta saber cozinhar Próximo Texto: Livro de cozinha baiana tem nova edição Índice | Comunicar Erros |
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