São Paulo, quinta-feira, 01 de setembro de 2011

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Banquete de jejum

Sagrado para os muçulmanos, o Ramadã tem jantares festivos no final do dia para quebrar a abstinência e provoca corrida aos mercados

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Todos os olhares no mundo islâmico se voltaram para o céu no início desta semana, em busca do primeiro sinal da lua nova. A aparição indicou o fim do Ramadã, mês sagrado dos muçulmanos, e o início de uma verdadeiro festival gastronômico.
Embora o Ramadã gire em torno da leitura do Corão e do jejum diário, o mês é também fortemente marcado pelas iguarias do "iftar", o jantar que reúne as famílias para a quebra do jejum.
Nos países muçulmanos, os dias de abstinência são uma corrida aos mercados, em busca dos ingredientes que estarão nas mesas do "iftar" e do "sohor", o café da manhã prévio ao jejum.
As receitas variam de acordo com os costumes de cada país. Em comum entre eles, a fartura das mesas, verdadeiros banquetes. Sobretudo no momento da sobremesa, quando a degustação de doces pode durar horas.
"Servimos os pratos típicos da cozinha árabe e adicionamos algumas tradições do Ramadã, como o suco de tamarindo, as tâmaras secas e os doces", diz Joseph Ghazzawi, gerente do hotel Ancars, em Ramallah, na Palestina.
No bufê montado sob uma tenda, que o gerente diz, orgulhoso, ser "a única de Ramallah", uma mesa com 11 diferentes pratos quentes, além de dez tipos de saladas. Entre eles, abobrinhas, maxixes e berinjelas recheadas com arroz e carneiro, arroz com açafrão e passas, quiabo com tomate, "cigarros" de folhas de uva com recheio de arroz e especiarias, e uma bandeja com misteriosos embrulhos de papel laminado.
Dentro, um delicioso pedaço de carneiro feito no vapor, macio a ponto de desmanchar-se na boca. As saladas são um mundo a parte, do humus (pasta de grão-de-bico), a vários tipos de coalhada e legumes em conserva.

CORRIDA
Depois de 15 horas em jejum, a corrida aos pratos é inevitável. Seis TVs ornamentam a tenda, alternado passagens do Corão e pegadinhas da televisão egípcia.
O jejum é em geral quebrado com algumas tâmaras secas ou suco de tamarindo. Em seguida, um caldo ralo com "friki", o trigo assado que é obrigatório nas mesas do Ramadã. Até os cristãos de Israel entram no clima.
"Não jejuamos, mas gostamos de ir a restaurantes no 'iftar' e participar da confraternização", diz Vera Juries, cristã de Jerusalém.
Na mesa das sobremesas, dez tipos de doces. Há desde os tradicionais "baklawa" (pastel de massa folhada) e "knafe" (massa fina com queijo), musses, tortas e massas fritas e "basbousa" (bolo com calda de rosas).
Durante um mês (que pode variar de 29 a 30 dias, segundo o calendário lunar) é proibido comer, beber, fumar e praticar sexo da alvorada até o pôr do sol. Isso às vezes significa café da manhã às 3h.
"Acordo, como e volto a dormir", diz Wael Alqarra, que trabalha em uma organização humanitária em Gaza.
"É um grande café da manhã, só que no meio da noite", diz.
De Jerusalém a Teerã, a comida muda as cidades durante o período do Ramadã.
Patrícia Chiarello, que no início de agosto tornou-se a primeira diplomata brasileira a servir no Irã, ficou surpresa com o comércio de rua que surge no fim do jejum.
"Uma coisa curiosa é a aglomeração de pessoas em frente a restaurantes ou até pequenos quiosques que vendem sopa na cidade. De repente, é dada a largada e todos avançam para comer."

FOLHA.com
Veja fotos dos banquetes muçulmanos no Ramadã
folha.com/fg4298


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