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MEMÓRIA
Especialistas mostram que é possível recuperar até pintura original
Restauração traz à tona segredos de casas antigas
GIOVANNY GEROLLA
FREE-LANCE PARA A FOLHA
"A casa estava horrível. Cheirava a mofo, o piso de madeira parecia ter apodrecido e todos os detalhes tinham sido pintados ou
cobertos com carpete."
Diante de uma impressão como
a que teve o tatuador Fernando
Bertacin, 28, ao entrar em um
imóvel antigo que havia herdado,
a única saída parece ser cobrir tudo com novos materiais ou com
fartas demãos de tinta.
No entanto, quem opta por
descobrir o que uma casa longeva
esconde por baixo do excesso ou
da falta de reformas pode encontrar boas surpresas.
"Tem gente que pode ter um
mural de [Candido] Portinari na
sala e não sabe", exemplifica o
restaurador Julio Moraes, completando que preciosidades como
essa podem ser descobertas no
centro e nos Jardins.
Mesmo que o achado não tenha
valor artístico, pode ter grande
peso estético, como pisos de madeira desenhados ou detalhes
pintados na parede que, recuperados, ficam como novos.
O resgate não é barato. "O preço
de um interior completo, por
exemplo, pode ir de R$ 1.500 a
R$ 3.000 por metro quadrado",
diz o restaurador Antonio Sarasá.
Para fazer o orçamento, leva-se
em consideração o estado de conservação do material, e não sua
natureza. A maior parte dos custos destina-se ao pagamento da
mão-de-obra. "Gastos com material representam de 10% a 20% do
custo total", afirma Moraes.
"Bacalhau"
O primeiro passo para a recuperação é consultar um arquiteto
que saiba investigar o valor histórico do imóvel. Alguns têm especialização em restauro e podem
colocar a mão na massa. Outros
chamam um restaurador para fazer a prospecção e o reparo.
Com bisturi e solventes, extraem-se as diversas camadas de
revestimento para descobrir as alterações feitas ao longo dos anos,
como as das cores da parede ou o
emparedamento de uma janela.
Identificadas as características
originais da casa, parte-se para a
restauração, que não é simples.
Pisos, rodapés e esquadrias de
madeira muito danificados pela
umidade ou por cupins recebem
um enxerto. A técnica, chamada
de "bacalhau", consiste em remover a parte afetada e substituí-la
por madeira nova.
Superfícies não deterioradas
são raspadas e tratadas. Geralmente tenta-se fazer a limpeza
com água, adicionando, a cada
etapa, álcool ou acetona.
Isso porque cada tipo de sujeira
pede um solvente. A conservação
do original depende do uso de
produtos menos agressivos nas
áreas menos sujas. O que está exposto também esconde segredos.
Telhas, tijolos e ladrilhos hidráulicos voltam a mostrar a cor original após a restauração.
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