São Paulo, domingo, 05 de maio de 2002

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RUÍDOS

Técnica cresce no país; no ano passado, foram consumidos 12 milhões de metros quadrados de placas de gesso acartonado

Dry wall isola som tanto quanto alvenaria

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Os incomodados que se retirem. Esse surrado mote entrou na vida do pecuarista Eduardo Melão, 58. Após conviver por quatro anos com a barulheira da vizinha, está de mudança. Segundo ele, do apartamento acima do seu, vinha um incessante "tum-tum".
Escaldado, encomendou a aplicação de gesso acartonado na parede do dormitório em seu novo endereço. "É para prevenir."
A escolha do gesso acartonado vem crescendo no país. Segundo a Abragesso (associação dos fabricantes), foram instalados 12 milhões de metros quadrados de placas em 2001. Para 2002, esperam-se outros 15 milhões.
Mas ainda é pouco, pois o brasileiro consome 0,07 m2 por habitante ao ano, enquanto cada norte-americano usa 9 m2.
O engenheiro Nelson Faversani Júnior coordenador de obras da construtora InPar, pioneira no uso da tecnologia, afirma que, por si só, "o gesso acartonado é mais isolante que a alvenaria".
Além disso, é uma alternativa para a perda de espaço interno, sobretudo em estúdios domésticos ou home theaters. A espessura do gesso duplo é de 5 cm a 7 cm, enquanto a parede de alvenaria mede de 10 cm a 12 cm.
Para otimizar o isolamento, a arquiteta Miriam Addor, 36, sugere o uso de duas placas de gesso acartonado preenchidas com lã de vidro com densidade de 16 kg/ m3 e a colocação de uma fita adesiva própria para dry wall entre a placa e o piso.
Se o dry wall simples, sem enchimento, tem o mesmo poder isolante da alvenaria, com chapas duplas, "o índice de absorção sobe para até 44 dB (decibéis); com manta de lã de vidro, reduzimos os ruídos em até 52 dB", afirma o engenheiro Carlos Roberto de Luca, da fabricante Placo.
Denise Duarte, 32, professora do grupo de conforto ambiental do departamento de tecnologia da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), lembra que, para evitar ruídos vindos de cima, uma amiga queria encaixotar a casa com gesso. "Não adianta. Sugeri que presenteasse o vizinho com um tapete grosso."

Janelas e portas
O "sanduíche" de gesso acartonado é uma evolução, diz o professor de conforto ambiental da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Unesp (Universidade Estadual de São Paulo), João Roberto Gomes de Faria, 44.
"As portas e janelas preocupam mais, pois, além de muito finas e mal vedadas, ficam próximas entre si. Isso aumenta a capacidade de propagação do som." Para ele, é possível reforçar a vedação da porta com fitas de borracha e uma espécie de "escovinha", vendida por metro em "home centers".
"Também as janelas contíguas propagam o barulho. O jeito é não escancarar a folha do lado do vizinho, mantendo aberta somente a oposta", aconselha a arquiteta Sofia Kubo, especialista em acústica.
A dica de Miriam Addor é verificar a posição das caixas de tomada, que, segundo ela, facilitam a passagem do som. "Vale a pena isolá-las com lã mineral ou madeira. Mas a melhor escolha é deslocá-las uns 20 cm para o lado."
"Existem ainda materiais como os painéis absorventes e o Pis- tofibra [lã de vidro flocada", do grupo Saint Gobain", lembra o arquiteto Nelson Lojo.
Por fim, Addor recomenda colocar gaxetas para completar a vedação das portas. Mas alerta que as acústicas são pesadas, empenam mais facilmente e dão mais manutenção. (NATHALIA BARBOZA)


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