São Paulo, domingo, 22 de junho de 2008


Jovens morrem após serem entregues por militares a traficantes de morro rival

DA SUCURSAL DO RIO

Três jovens que moravam no morro da Providência (centro do Rio) foram torturados e mortos por traficantes de drogas do morro da Mineira (Catumbi, zona norte) no sábado, dia 14. Onze militares do Exército confessaram ter entregue os três à quadrilha da ADA (Amigo dos Amigos), facção inimiga do CV (Comando Vermelho), que domina a Providência.
David Wilson da Silva, 24, Wellington Gonzaga, 19, e Marcos Paulo Campos, 17, foram detidos no alto da Providência por militares que patrulhavam a favela, sob a acusação de desacato. No quartel mais próximo, o capitão Leandro Ferrari os liberou, por não concordar com os argumentos para a detenção apresentados pelo tenente Vinícius Ghidetti Moraes.
Inconformado, Moraes, três sargentos e sete soldados desobedeceram à determinação superior. Levaram os rapazes ao morro inimigo da Providência e os entregaram aos traficantes. Os corpos apareceram horas depois em um "lixão" no município de Duque de Caxias.
O Exército prendeu os militares ainda no fim de semana. Todos contaram ter participado do fato. Em depoimento à Polícia Civil, o tenente disse que o objetivo era dar um "pequeno castigo" nos rapazes da Providência.
No fim de semana, moradores iniciaram os protestos que resultaram em depredações e queimas de ônibus. Na segunda-feira, 400 manifestantes enfrentaram os militares a pedradas em frente ao Palácio Duque de Caxias, sede do Exército no Rio de Janeiro.
No dia seguinte, representando o governo Lula, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, foi à favela pedir desculpas. Com ele, estava o comandante do Exército, general Enzo Peri.
Dois dias depois, a Justiça mandou retirar do alto do morro da Providência as tropas do Exército, lá instaladas desde dezembro como força de segurança de obras de recuperação de fachadas idealizadas pelo senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), aliado do presidente Lula e pré-candidato à Prefeitura do Rio na eleição deste ano. O governo agora tem até quinta-feira para apresentar uma "solução definitiva".


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