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Número de casos diminui com engarrafamento
DA REPORTAGEM LOCAL
Ninguém gosta de ficar parado
no trânsito, mas é quando a cidade engarrafa que cai o número de
atropelamentos e de acidentes
com vítimas. A observação é da
médica Cristina Arranz, que na
quinta-feira era a plantonista no
comando de operações do Resgate, na praça da Sé. Entre 14h30 e
15h30, quando o trânsito fluía, foram quatro atropelamentos.
Como os grandes centros vivem
com pressa, não demoraram a
surgir as empresas de motoboys.
Quanto mais lento o trânsito da
cidade, mas rápido eles andam.
As vítimas, na hora dos engarrafamentos, são os motoboys.
Para os especialistas, o país tem
um código avançado, falta ser
cumprido e fiscalizado. A CET,
Companhia de Engenharia de
Tráfego, tem fotos de motoristas
passando a 250 km pelas marginais, de madrugada, em Porches
ou BMW, mostrando o dedo para
os radares. "Eles têm dinheiro,
não tem educação", diz a médica
Julia Greve, que participou da
pesquisa do IPEA pelo HC.
Educação, no trânsito, começa
pela sobriedade. Pesquisa feita
pela equipe de Julia Greve no Instituto Médico Legal, central, revelou que, dos 2.360 mortos no trânsito, 48,9% tinham quantidade de
álcool no sangue superior à permitida por lei.
O Código de Trânsito pune
quem dirige alcoolizado, mas o
Código Civil permite que o motorista se negue a passar pelo teste
do bafômetro. "Não sei de ninguém que tenha ido para a cadeia
por infração de trânsito", diz o
médico Dirceu Rodrigues Alves
Júnior, da Abramet, associação
que se dedica à prevenção e à proteção das pessoas no trânsito.
Hamilton Antonio Batista, 55,
dirigia uma Kombi em São Miguel, zona leste, quando um caminhão invadiu sua faixa e bateu de
frente. Batista, funileiro e pintor
de carros, teve as duas pernas amputadas. Isso foi em 1986. Nesses
17 anos, ele viveu sobre uma cadeira de rodas, pintando automóveis, e nunca conseguiu sequer o
dinheiro do seguro obrigatório. O
acidente aconteceu às 13h. Batista
só foi internado no HC às 3h do
dia seguinte, depois de passar por
vários hospitais. "Quando me
atenderam, a perna já estava gangrenada e tiveram de amputá-la."
Batista nunca recebeu orientação para reaver seus direitos, embora tenha pago um advogado.
Agora, internado na AACD, ele
sairá de lá com duas pernas mecânicas. Vai poder andar.
"Educação e controle, essa é a
fórmula para se reduzir os acidentes de trânsito", diz Maria Sumie
Koizumi, do Grupo de Estudos
em Neurotrauma da Escola de
Enfermagem da USP e coordenadora de vários estudos sobre acidentes. "O cinto de segurança
passou a ser adotado só após as
multas e uma ampla campanha."
Julia Greve lembra que os acidentes de trânsito custam muito e
são os responsáveis pelas filas e
faltas de vaga nos hospitais. "Sem
seus custos, talvez não precisássemos de um Fome Zero nem tivéssemos crianças desnutridas."
(AURELIANO BIANCARELLI)
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