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DANUZA LEÃO
Paciência, paciência
Já está ficando monótono.
A vida ia melhorar, mas, da
posse para cá, só duas pessoas não
conseguem esconder sua felicidade: Lula e Marisa.
Tem muita gente mal; mal e
com medo de ficar pior ainda.
Mas não reclamávamos, todos,
do dólar, que só fazia aumentar?
Então não era para estarmos todos felizes porque ele baixou? Ah,
essa tal dessa economia.
Dentro do mesmo tema, também não dá para entender por
que os juros do cheque especial estão a 150% ou 170% ao ano, sei lá;
mas quando se investe (no mesmo banco), o rendimento é de
0,70% ao mês. Ora, se é o NOSSO
dinheiro que eles emprestam a juros altíssimos, por que o NOSSO
rendimento é quase nada? As
únicas pessoas felizes neste país,
além de Lula e Marisa, devem ser
os banqueiros, mas como a esperança ainda não morreu, esperamos o dia de ver Lula na televisão, num daqueles discursos inflamados, falar que chegou, enfim, a vez dos bancos (porque sobre as reformas tributária e previdenciária ninguém aguenta
mais). Enquanto isso não acontece, vamos nos adaptando aos novos tempos; se possível, sem medo
de ser infeliz.
Para começar, saia de casa o
menos possível; quando não puder mesmo evitar, passe reta, sem
olhar para nenhuma vitrine.
Olhou, vem a tentação, o cartão
de crédito está no bolso -se parcelar, são 10% ao mês- e algum
consumo sempre faz bem à alma
(e dependendo, ao corpo também). Corte a aula de ginástica e
exercite-se em outras atividades:
passe a ir à feira, mas bem tarde,
quando tudo já baixou de preço, e
volte carregando as sacolas, já
que a diarista passou para duas
vezes por semana. Só com isso você já desempregou dois, o professor de ginástica e a empregada.
Ah, e dispense a faxineira que vinha de 15 em 15 (atenção, Dieese),
já são três).
Mas vai piorar: a manicure
-afinal, quem não consegue cuidar das unhas sozinha?- e o cabeleireiro -uma escovinha rápida é moleza. Agora, Dieese, já são
cinco.
Cinema, nem pensar: muita televisão, muitos filmes no vídeo.
Forme um grupo de amigos para
alugar vários a cada fim de semana, sorteando os horários.
Pode ser que o que você mais
quer ver só esteja disponível às 3h
da manhã, e aí não tem jeito. Faça um derradeiro esforço e fique
acordada, pois o serviço despertador da companhia telefônica é cobrado.
A alimentação vai mudar, claro, e para economizar só existem
duas opções de comida barata: legumes em água e sal, o que vai fazer de você um palito subnutrido,
ou massas, e aí você vai ficar gorda e subnutrida. Detalhe: você já
reparou que um pacote de macarrão italiano (que dá para quatro
pessoas) custa R$ 4,20 e o mesmo
macarrão, dependendo do restaurante, custa de R$ 30 a R$ 50 a
porção? Voltando às compras:
peixe e camarão só em fotografia,
e galinha, só aos domingos.
É mais um sacrifício pelo país; a
vida vai ficar menos engraçada,
as famílias talvez briguem um
pouco mais, já que não podem
sair de casa para não se arriscarem a levar um tiro, mas tudo
bem; brasileiro é gente boa e paciente, quem não sabe?
O grande problema vai ser a falta de comunicação. Não se vai
mais poder falar no telefone com
a filha que mora no Sul, com a
amiga que vive em Buenos Aires,
nem com o namorado do momento, que pode estar em qualquer lugar do mundo.
A crise não aproxima ninguém,
só afasta, e não estimula arroubos
mais românticos.
A crise entristece, e não é justo
que aconteça exatamente nas vidas de quem, nas últimas eleições,
não teve medo de ser feliz.
E-mail - danuza.leao@uol.com.br
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