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JOVINA MARIA DA CONCEIÇÃO SOUTO (1915-2008)
A última cangaceira do bando de Lampião
WILLIAN VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Jovina Souto passara dos
90 com os vestidos floridos
de "tudo quanto era colorido", pulseiras e anéis enchendo-lhe mãos e dedos e o
cheiro de pó-de-arroz dos
tempos em que fugira de casa
para seguir o bando de Lampião pelo sertão da Bahia.
"Era mais bonita que Maria Bonita", diz a filha, hoje
ciente de tudo -mas que, por
décadas, ignorou a vida da
mãe no cangaço. "Ela gostava
de falar bobagem, safadeza",
mas sobre o passado, nada.
Até que, em 2005, a filha, curiosa, conheceu o irmão e arrancou a verdade da mãe.
Jovina foi Durvalina de Sá,
filha do fazendeiro de Paulo
Afonso (BA) de quem muito
apanhava e em cuja fazenda
via o bando de Lampião chegar "atrás de farra e comida".
Foi após um namorico com o
cangaceiro Virgílio, aos 14,
"mal começava a ter seios
após a segunda regra", que,
"um belo dia, fez a trouxinha,
subiu na mulinha e se foi".
Tempo "de vidão no cangaço", com Virgílio tratando-a "como princesa, dando comida na boca, enchendo ela
de jóias"; até ser morto pela
polícia com o bando, em
1938. Escaparam ela e Moreno, ou Antônio Inácio da Silva, que se casaram, foram a
Pernambuco e, no lombo de
um burro dado pelo padre,
seguiram até Minas Gerais.
Lá, trocaram de nome, viraram lavradores e viveram
em silêncio, até que a filha
descobriu o irmão. Jovina tivera 18 filhos -seis, hoje, vivos. Tinha 14 netos e uma
predileção por caqui, que comeu a pedido horas antes de
morrer de derrame, no sábado, aos 93 e sem segredos.
obituario@folhasp.com.br
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