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ENTREVISTA
Instituto vai estudar a interação entre família e saúde da criança
DA REPORTAGEM LOCAL
Um local dedicado ao estudo da
interação entre pais e filhos e da
sua influência na saúde física e
mental das crianças e adolescentes. É o que pretende o recém-criado Instituto da Família, que
reunirá especialistas em pediatria,
psicologia, pedagogia, filosofia,
entre outras áreas. As atividades
começam no próximo ano.
Dirigido pelo pediatra Leonardo Posternak, 57, do Hospital Israelita Albert Einstein e do Comitê de Saúde Mental da Sociedade
de Pediatria de São Paulo, o instituto oferecerá cursos de especialização a médicos e atenderá famílias que estejam vivenciando situações de conflito. Mas ainda depende de parcerias para a viabilização de alguns projetos.
Segundo Posternak, a criança é
vista hoje de forma fragmentada
e, muitas vezes, doenças inexplicadas ou atitudes problemáticas
são resultado de um conflito intrafamiliar. O médico é autor de
dois livros, o último -"O Direito
à Verdade - Cartas para uma
Criança"- foi vencedor do prêmio Jabuti de psicologia de 2003.
A seguir, alguns trechos da entrevista dada à Folha
(CLÁUDIA COLLUCCI)
Folha - A curto prazo, é mesmo
possível fazer com que os pediatras, durante uma consulta, avaliem essa relação entre pais e filhos
e detectem possíveis conflitos?
Leonardo Posternak - Se não
mudar o currículo do médico, ele
não muda a maneira de enxergar
a medicina. Hoje ele não considera que as relações familiares têm
um peso importante no aparecimento de doenças físicas ou psíquicas na criança. O instituto quer
estar ao lado das faculdades de
medicina, extracurricularmente,
trabalhando com a promoção e a
prevenção da saúde familiar,
mostrando que o pediatra é muito
mais que um médico de criança.
Ele é o primeiro profissional
que a família chama para cuidar
do crescimento familiar. Por isso
é preciso que ele tenha um currículo que extrapole o conhecimento biológico da criança. O mesmo
objeto de estudo tem que ser olhado de vários lugares porque senão
acontece a fragmentação da
criança, que passa por neuropediatras ou fonoaudiólogos porque tem dificuldade escolar. Às
vezes, quando vemos isso integrado à família, descobrimos que a
dificuldade de aprender é resultado de um conflito intrafamiliar.
Folha - Essa não é uma questão
que já deveria estar presente no
currículo dos médicos?
Posternak - Deveria, mas não está. Há discursos mostrando que
existe um hiato que não está sendo preenchido. O instituto surge
porque há uma carência.
Folha - Na rede pública de saúde,
os médicos têm menos de 15 minutos para atender uma criança. A rede conveniada segue o mesmo caminho. Como adequar essa carência a uma consulta mais elaborada?
Posternak - Creio que até mesmo em uma consulta de 15 minutos seja possível essa mudança de
olhar. Se você basicamente olha a
mãe e o filho e deixa essa mãe falar
um minuto desses 15 disponíveis,
muitas dicas poderão ser dadas.
Nós estamos treinados para prescrever, não para ouvir. Em 15 minutos, é possível fazer uma consulta mais levada a detectar as
causas do conflito de uma determinada relação. No instituto, vamos ter consultórios onde os supervisores poderão acompanhar
a maneira como os médicos bolsistas vão atender os pacientes.
A idéia é que eles procurem sinais e falhas de comunicação que
possam existir entre o médico e a
família. Queremos que depois o
bolsista monte núcleos de pediatras e repasse o aprendizado, ou
seja, que haja uma multiplicação
de formadores em outras regiões.
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