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SAÚDE
Fumantes têm seis vezes mais chances de enfrentar o problema; uso de anticoncepcional eleva risco em até 30 vezes
"Epidemia" de infarto afeta mulher
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Mulheres fumantes têm seis vezes mais chances de sofrer um infarto do que as não-fumantes.
Quando utilizam pílula anticoncepcional, o risco pode ser até 30
vezes maior, segundo estudo da
Escola de Saúde Pública da Universidade de Boston (EUA).
As más notícias para o público
feminino não param por aí. A relação de mortalidade por doença
arterial coronária entre homens e
mulheres, que em 1970 era de dez
homens para cada mulher, é hoje
de 2,45 homens para cada uma
em São Paulo.
Segundo o cardiologista Antonio Carlos Carvalho, professor da
Unifesp (Universidade Federal de
São Paulo), já existe uma "verdadeira epidemia" de infartos entre
as mulheres brasileiras. Tanto que
o assunto será um dos destaques
do congresso anual da Sociedade
Brasileira de Cardiologia, que
ocorre neste mês em São Paulo.
Carvalho afirma que na faixa
etária acima dos 70 anos a mulher
já alcançou o homem em número
de mortes, com uma relação de 1
para 1.
Uma das explicações para isso
seria que, após a menopausa, as
mulheres apresentam uma queda
de estrógeno, hormônio feminino
que, entre outras funções, promove elevados teores de lipoproteínas de alta densidade (HDL), apelidadas de "bom colesterol", responsáveis por manter as artérias
livres de arteriosclerose (acúmulo
de gordura no vaso sanguíneo).
Entre as mulheres mais idosas, a
obesidade, o sedentarismo e o
diabetes tipo 2 são os principais
fatores de risco para o infarto, segundo o cardiologista Antônio de
Pádua Mansur, 46, diretor da
Unidade de Emergência do Incor
(Instituto do Coração).
Pesquisa realizada com 249 mulheres infartadas, que passaram
pela unidade cardiológica do
Hospital São Paulo, mostra que
35% das que tinham mais de 75
anos eram diabéticas e 66,6% sofriam de hipertensão.
Para a enfermeira Rita Simone
Lopes, autora do estudo, a mulher
mais idosa não acredita que possa
infartar, nem mesmo quando
sente os sintomas característicos
da doença, como dor no meio do
peito, que pode irradiar-se para os
braços, as costas e o estômago.
Além disso, segundo o cardiologista Mansur, muitos serviços de
saúde não-especializados em cardiologia demoram para diagnosticar o infarto em mulheres.
Pesquisa feita no ano passado
por médicos ingleses mostra que,
entre as mulheres que sofrem infarto agudo, as mortes ocorrem
três vezes mais que entre homens
nas mesmas condições. Uma das
principais causas disso seria o
atendimento médico precário ao
qual as mulheres são submetidas.
Entre as mulheres mais jovens,
o cigarro é o inimigo número um
do coração. Estima-se que a prevalência do tabagismo entre as
mulheres adultas (de 15 a 64 anos)
tenha passado de 10%, em 1970,
para 25% em 2000.
A relação do fumo com os infartos também fica clara na pesquisa
da enfermeira Rita Simone. Entre
as mulheres com até 55 anos, 66%
eram fumantes.
Segundo a cardiologista Jaqueline Issa, do Ambulatório de Tabagismo do Incor, o grande problema é que as mulheres fumantes
têm mais dificuldades do que os
homens de deixar o vício. "Há a
preocupação de engordar."
Um estudo do Hospital do Coração de São Paulo, feito com cem
pacientes, mostra que o medo de
engordar na abstinência é um
obstáculo para 90% das mulheres
na hora de deixar de fumar.
A copeira Maria Isabel Matias,
47, que costumava fumar um maço de cigarros por dia, é um exemplo típico da dificuldade de largar
o vício. Em três anos, ela já sofreu
dois infartos, o mais recente no
último dia 16. Ainda assim, não se
convenceu de que foi o cigarro a
principal causa dos infartos.
"Se foi mesmo, desta vez vou
tentar parar de fumar", afirma,
sem demonstrar muita convicção. Após o primeiro infarto,
ocorrido na véspera do Natal de
1999, ela até que tentou deixar o
cigarro. Conseguiu abster-se durante uma semana. Depois, deixou de lado os remédios para a hipertensão e se entregou novamente ao vício.
Desta vez, Maria diz que conta
com o apoio das filhas, também
fumantes, de 22 e 23 anos. "Elas
prometeram não fumar mais
dentro de casa", afirma.
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