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Vestibular afasta "vida inteligente", diz MEC
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL
Fim do vestibular e uma base
curricular unificada nacional
são as medidas que a secretária
de Educação Básica do MEC,
Maria do Pilar, aponta como essenciais para melhorar a qualidade do ensino médio no país.
Esse nível de ensino é considerado pelo governo federal o
mais problemático de todo o
sistema (não há indicativos de
melhora em exames federais
como o Saeb e são altos os índices de evasão e repetência).
Leia abaixo a avaliação da secretária -professora licenciada em história- sobre a educação média, que será debatida
nesta semana em seminário da
Unicef, na Argentina.
FOLHA - Como a sra. analisa a situação do ensino médio no país?
MARIA DO PILAR - Das três etapas
da educação básica, o médio é o
que possui o maior desafio. No
infantil, já há um modelo de
oferta, falta construir creche.
No fundamental, estão mais organizados o currículo, as avaliações e a correção do fluxo (estudantes cursando a série esperada para suas idades).
No médio, ainda precisamos
discutir o que os jovens têm de
estudar. Digo sempre aos reitores das universidades: não vai
existir vida inteligente no ensino médio enquanto houver
vestibular na forma atual.
O currículo tende a se ajustar
a essa prova, que é seletiva e excludente. E de decoreba.
Depois, precisa dar aula de
reforço a esses universitários,
porque o vestibular selecionou
mal. Parece coisa de doido. As
faculdades aprovam os meninos com uma quantidade grande de conteúdo, mas com pouca
elaboração [de raciocínio].
No ano passado, em reunião
do Consed [conselho dos secretários estaduais de Educação]
sobre experiências de ensino
médio, ficou claro que nenhum
país analisado tem 12 disciplinas obrigatórias como aqui.
Geralmente há uma base comum, que se resume a língua
materna, literatura, matemática e história. Os alunos compõem o restante do currículo,
com base no que querem fazer
adiante. No Brasil, estudam física nos três anos, química, biologia, sociologia... É um acúmulo sem muito sentido para eles.
FOLHA - Mas as disciplinas não são
obrigatórias?
PILAR - Não, as diretrizes curriculares são apenas linhas gerais. Mas a escola não tem coragem de radicalizar, porque tudo
aquilo cai no vestibular.
Conclusão: nem todos os jovens entram na faculdade e não
fazemos uma formação aprofundada do adolescente.
FOLHA - O que deve ser feito?
PILAR - Em relação ao acesso à
universidade, existem outras
formas fora o vestibular. Há a
experiência, por exemplo, da
Universidade de Brasília, com o
Programa de Avaliação Seriada,
que avalia ano a ano os alunos.
Há o Enem, que muitas universidades usam como seleção.
Mas antes do vestibular, temos de entender quem é o sujeito de 15 a 17 anos no Brasil
em 2008. Não podemos pensar
em modelos do século passado.
Os meninos decoram física e
química, mas não sabem a história do pensamento científico.
FOLHA - Qual a proposta do MEC?
PILAR - Mexer radicalmente no
currículo e discutir com coragem o acesso à universidade.
Queremos chegar em fevereiro de 2009 com uma base
curricular nacional. Hoje temos a diretriz curricular, mas
cada Estado pode trabalhar de
uma maneira. Faz sentido no
regime federativo, mas algumas coisas precisam ser mais
diretivas. É um processo que
discutimos com toda as partes.
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