|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SAÚDE
Dentistas também estudam a relação das doenças periodontais com problemas cardiovasculares e infecções pulmonares
Infecção na gengiva leva a parto prematuro
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O sangramento frequente da
gengiva, ao toque do fio dental,
por exemplo, é o principal sintoma de uma doença bacteriana
chamada periodontite, que afeta
75% da população brasileira.
Além de levar à perda dos dentes, a periodontite está associada a
outros problemas de saúde mais
sérios, como doenças cardiovasculares, infecções pulmonares e
partos prematuros, segundo vários estudos internacionais.
No Brasil, essa relação começa a
ser estudada de uma forma mais
abrangente em uma pesquisa da
Faculdade de Odontologia da
USP (Universidade de São Paulo)
de Ribeirão Preto (SP), com financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).
Desde janeiro, pacientes da rede
municipal de saúde que tenham,
além de inflamações gengivais,
problemas cardiovasculares, diabetes, artrite e osteoporose ou sejam gestantes são acompanhados
por uma equipe de periodontistas
da faculdade.
Segundo Mário Taba Júnior,
professor da faculdade, o principal objetivo do trabalho é avaliar
o efeito do tratamento periodontal sobre as outras doenças.
Vários estudos internacionais já
teriam comprovado que o cuidado com a periodontite previne o
aparecimento de algumas doenças e facilita o controle de outras
já existentes. "Quando não tratada, a periodontite alimenta e agrava os sintomas das doenças sistêmicas", afirma Taba Júnior.
De acordo com o professor, há
evidências de que a infecção gengival prejudica o controle do diabetes do tipo 2. Taba Júnior diz
que, após o tratamento da periodontite, há casos de diabéticos
que passaram a necessitar de menores doses de insulina.
As bactérias causadoras da periodontite também podem migrar para o coração e provocar endocardite (uma infecção no forro
das válvulas do coração) e outros
problemas cardiovasculares, como a aterosclerose [depósito de
gordura nas artérias", que pode
evoluir para isquemia e infarto.
De acordo com Rodrigo Bueno
de Moraes, 31, um dos diretores
da Sobrape (Sociedade Brasileira
de Periodontologia), existem autores que consideram as infecções
bucais fatores de risco para o coração comparáveis ao tabagismo
e à hipertensão.
A periodontite também pode levar ao nascimento de bebês prematuros. Segundo a periodontista
Idelana Maria Luz Lopes, 40, professora do curso de especialização
da Sobrape, há estudos demonstrando que as bactérias periodontais podem provocar contrações
uterinas e dilatação prematura do
colo uterino, apressando o parto.
Para Lopes, é necessário acabar
com o mito de que o sangramento
gengival em mulheres grávidas "é
normal", uma consequência das
alterações hormonais ocorridas
durante a gestação. "Nenhum
sangramento na gengiva é normal. A grávida precisa ser tratada,
sim, para manter a doença periodontal controlada", afirma.
Segundo ela, em pessoas "saudáveis", que não têm doenças associadas, o processo infeccioso da
periodontite costuma gerar mal-estar e desânimo. É o que sentiu o
engenheiro Marco Antônio Pupo,
53, no ano passado, após ser acometido por uma periodontite severa, causada por uma bactéria
resistente que só foi eliminada
com o uso de antibióticos.
"Depois do tratamento, senti
um bem-estar indescritível", recorda-se. Pupo afirma que apresentava sangramentos na gengiva
desde os 20 anos. "Ia ao dentista,
fazia raspagem no dente, mas a
inflamação persistia", conta. Há
cinco anos, começou a se tratar
com uma periodontista, mas no
ano passado descuidou da higiene
bucal. "A infecção voltou com
carga total. Levei a maior bronca
da dentista", diz.
Texto Anterior: Há 50 anos Próximo Texto: Prevenção da doença é o principal desafio Índice
|