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DISTÚRBIO
Pesquisa em São Paulo aponta tensão e exercício da autoridade como principais causas de problemas psicológicos
Doença mental afasta 50% dos funcionários da Febem
RODRIGO ROSSI
FREE-LANCE PARA A FOLHA CAMPINAS
Uma pesquisa feita por médicos do Cerest (Centro de Referência de Saúde do Trabalhador) de
São Paulo aponta que 50% dos
afastamentos de funcionários da
Febem (Fundação Estadual do
Bem-Estar do Menor) foram motivados por problemas psicológicos adquiridos no serviço.
No estudo inédito, iniciado no
final de 2003 e que deve ser concluído em dois meses, foram levantados os dados relacionados
aos afastamentos do trabalho motivados por problemas de saúde
no período de 1998 a 2002.
No total, ocorreram 1.941 afastamentos de funcionários, sendo
1.681 com motivo diagnosticado.
Do total, 848 licenças foram provocadas por doenças mentais adquiridas no contato diário com
um ambiente tenso e com a coação dos menores infratores.
Em Campinas, 8 dos 144 funcionários se encontram afastados do
serviço nas duas unidades locais
-Jequitibás e Amazonas. Há
duas semanas, as duas unidades
passaram por rebeliões. Nos motins, dez funcionários foram feitos
reféns dos adolescentes. Pelo menos quatro saíram feridos.
Um funcionário teve o braço
quebrado após apanhar com uma
barra de ferro. Outro teve o corpo
encharcado de álcool. Os internos
ameaçavam atear fogo no corpo
dele. Uma funcionária recebeu
ameaças de morte.
De acordo com a Febem, dos
cerca de 8.000 funcionários que
atuam nas 77 unidades do Estado,
10% estão afastados por doenças.
Para os pesquisadores, esses valores poderiam ser ainda maiores
se fossem considerados outros
diagnósticos de doenças cardíacas e digestivas, que, embora não
estejam no capítulo das enfermidades mentais, podem ter relação
direta com o ambiente tenso.
Segundo a pesquisa, entre os 29
diagnósticos de doenças psicológicas mais freqüentes em funcionários afastados da Febem estão
os episódios depressivos (416 casos), os transtornos ansiosos (151)
e as reações ao estresse (132).
A psicóloga Patrícia Helena
Marques, 28, também responsável pela pesquisa, diz que a falta de
treinamento e o convívio com situações de contenção e intimidação são as principais causas.
Medo e repressão
Funcionários da Febem, diz ela,
convivem com o exercício da autoridade e o medo e a apreensão.
A combinação, aliada à falta de
pessoal adequado para lidar com
a superlotação, gera ansiedade e
distúrbios de personalidade.
"Os funcionários são levados ao
desgaste constante e ao estresse
pró-traumático gerados por situações de ameaças de rebelião."
Para a Febem, os funcionários
são treinados. Cerca de 6.500 jovens estão internados. A maioria
das unidades está superlotada.
O funcionário João (nome fictício), afastado de uma unidade de
Campinas após ser vítima em
uma rebelião, diz que trabalhar na
Febem é imprevisível. "Chego
tenso ao trabalho. Volto para casa
tenso, com medo. Os internos
mantêm muitos contatos na rua."
O médico do Cerest José Carlos
do Carmo, responsável pela pesquisa, disse que o objetivo é mapear as situações críticas da instituição para buscar alternativas
que reduzam as doenças mentais.
A Febem considerou real e alto
o índice apontado pela pesquisa e
informou que pretende aumentar
o rigor nos critérios para conceder afastamentos médicos.
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