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SAÚDE
Exercícios fortalecem o registro da informação e a organização dos dados e ajudam a compensar o déficit cognitivo
"Ginástica" estimula memória na velhice
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
"Fazer o nhoque e colocar a nota de R$ 1 embaixo do prato". Essa
era uma das anotações na agenda
da aposentada Maria Helena Flores, 61, de Amparo (SP), na última
quinta-feira, dia 29, dia do tradicional "nhoque da sorte". Há um
ano, ela escreve na agenda todos
os compromissos e faz exercícios
adicionais de memorização.
As estratégias, adotadas quando
a aposentada começou a esquecer
itens de compras, objetos guardados dentro de casa ou datas importantes, integram um tipo de
"ginástica" cada dia mais freqüente na terceira idade: o estímulo da memória e de todo o sistema cognitivo por meio de jogos
e exercícios. Eles fortalecem o registro da informação e a organização dos dados na memória, ajudando a compensar o declínio
cognitivo.
No processo de envelhecimento, alguns sistemas da memória
sofrem declínio. A memória operacional (de curto prazo), responsável pela manipulação da informação, e a episódica (de eventos
específicos) são as mais afetadas.
Porém a memória semântica,
aquela que guarda o significado
de objetos e fatos, geralmente fica
preservada na velhice.
Embora haja consenso sobre a
eficácia dos jogos e dos exercícios
de memória, médicos defendem a
necessidade de respeitar as habilidades do idoso na hora de indicar
essas atividades.
"Para alguns idosos, preencher
um diário ou uma agenda, por
exemplo, pode ser motivo de angústia. É necessário entender o
processo cognitivo de cada idoso
para indicar a reabilitação correta", diz a neuropsicóloga Jacqueline Abrisqueta-Gomez, coordenadora clínica do Sari (Serviço de
Atendimento e Reabilitação do
Idoso) da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo).
A aposentada Irma Isaura Tres,
88, por exemplo, usa a costura e as
listas de supermercado como "terapia antiesquecimento". "Estou
com a mente sempre ativa. Procuro me esforçar para lembrar as
coisas que esqueço", afirma. A filha, Wandercy Rodrigues, 62, segue o mesmo caminho. Além de
jogos no computador, treina a
memória contando números de
placas de carro e também faz bordados em ponto de cruz.
Outra estratégia, recomendada
pela fonoaudióloga Ana Alvarez,
pesquisadora do laboratório de
neurociências do Instituto de Psiquiatria da USP, é usar o olfato
para "fixar" na memória novos
aprendizados. "O cheiro do alecrim, por exemplo, é um ótimo
aliado na hora de memorizar informações que não podem ser esquecidas", afirma.
Ler e assistir a filmes são outras
dicas, mas é preciso comentá-los
com uma outra pessoa para que
não haja esquecimento.
Demência
Para a psicóloga Valéria Bellini
Lasca, mestre em gerontologia
pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), os meios
externos, como agendas e bilhetes, são recursos que ajudam a
memória do idoso. "Ninguém é
obrigado a guardar tudo na memória. É preciso arquivar somente o que é importante."
No seu trabalho de mestrado,
Lasca acompanhou 39 idosas de
Amparo (SP) -Flores foi uma
delas. Todas passaram por testes
prévios para excluir possíveis
problemas patológicos, como a
doença de Alzheimer.
Segundo a psicóloga, as idosas
com tendência a depressão apresentaram comprometimento da
memória e tiveram pior desempenho nos exercícios. Outra conclusão, já citada em trabalhos anteriores do gênero, mostra que,
quanto maior o número de anos
de estudo, mais habilidade de memória o idoso possui.
Um mito que os profissionais
que trabalham com a terceira idade querem derrubar é a crença de
que todo esquecimento na velhice
leva à demência. "É normal esquecer fatos recentes e lembrar
deles depois de algum tempo. O
anormal é esquecê-los definitivamente", diz Luiz Roberto Ramos,
chefe do Centro de Estudos do
Envelhecimento da Unifesp.
Mas, quando o esquecimento
começa a interferir na qualidade
de vida da pessoa, é preciso uma
criteriosa investigação, que inclua
testes neurológicos e das condições clínicas do paciente, porque
pode tratar-se de um distúrbio
cognitivo patológico.
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