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SAÚDE
Crescem casos de plástica reparadora
BRUNO LIMA
DAS REGIONAIS
Dezembro de 2001. A publicitária Renata Guimarães Archilla,
22, está parada em um sinal, no
Morumbi, zona oeste de São Paulo. Um homem vestido de Papai
Noel se aproxima do carro. Ela
procura na bolsa dinheiro para
um donativo. O homem saca uma
arma e dispara quatro vezes.
Três tiros atingiram o rosto da
publicitária. No carro da polícia,
ela criou coragem para se olhar no
retrovisor. "Lembro-me exatamente do meu rosto. Tinha um
rombo na minha bochecha. Quebrei a mandíbula e o maxilar, e
minha língua rasgou inteira."
Cinco meses depois, a publicitária afirma que restaram somente
pequenas cicatrizes. "Não dá pra
dizer que levei os tiros. Foi uma
obra de arte, voltei a ser quem eu
era", afirma ela.
O "artista" foi um cirurgião
plástico que reconstruiu o rosto
de Renata. De acordo com alerta
feito na 22ª Jornada Paulista de
Cirurgia Plástica, que termina hoje em São Paulo, casos como o da
publicitária estariam se tornando
mais frequentes.
Segundo a Sociedade Brasileira
de Cirurgia Plástica, para cada cirurgia plástica estética feita no
país, uma cirurgia reparadora ou
reconstrutiva é realizada. Para a
entidade, o aumento da violência
é o principal responsável por levar
mais pessoas à sala de cirurgia do
especialista em plástica.
De 90 a 95, entre os pacientes
atendidos no Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São
Paulo) com fraturas em ossos da
face, 51,5% eram vítimas de acidentes automobilísticos. As
agressões representavam 29,7%.
Em 1994, de acordo com a sociedade, somente 20% das cirurgias
plásticas não eram puramente estéticas. Hoje, o número de cirurgias estéticas e reparadoras teria
se equiparado.
Os dados surpreenderam os especialistas ouvidos pela Folha. Segundo os médicos, a experiência
mostra que as reconstruções sempre foram mais representativas.
Sem susto
"A cirurgia plástica de embelezamento é muito valorizada. Mas,
nas universidades, talvez 90% das
cirurgias sejam reparadoras", diz
Nivaldo Alonso, 47, presidente da
Sociedade Brasileira de Cirurgia
Craniofacial.
José Alves de Sousa, 40, levou
uma martelada de um vizinho durante uma discussão. Precisou ter
o maxilar reconstruído. Ele se disse surpreso com o resultado.
"Quase não dá pra ver", diz.
"O objetivo da cirurgia reparadora é devolver o indivíduo ao
convívio social, sem assustar ninguém", diz o professor-adjunto
da Unifesp (Universidade Federal
de São Paulo) e secretário-geral
da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Helton Traber, 48.
As técnicas de reconstrução e
reparação -úteis até mesmo em
casos de câncer, para corrigir sequelas decorrentes da radioterapia e de complicações da quimioterapia- têm tido avanços, mas
isso não significa que seja possível
esperar pela perfeição.
"Os pacientes não devem ser
iludidos. Devem saber os limites",
declara o chefe da Divisão de Cirurgia Plástica do Hospital das
Clínicas de São Paulo, o médico
Marcus Castro Ferreira.
Segundo ele, o entendimento do
que é procedimento estético e do
que é reparação ainda não é pacífico e os conceitos podem variar
de acordo com o convênio de saúde. Um exemplo é a cirurgia feita
para remover depósitos de gordura em pacientes com o HIV. "Alguns tipos de cirurgia podem ser
encaradas como estéticas, mas
trazem um benefício enorme ao
lado psicológico do paciente."
A cirurgia reparadora possui
mais de 4.000 procedimentos diferentes. Muitas dessas técnicas já
conseguem evitar que o paciente
experimente a sensação de mutilação. Um exemplo é a reconstrução da mama feita na mesma cirurgia em que é retirado o tumor.
"Acordar e não me sentir mutilada foi muito importante para
minha recuperação", afirma Roseli Ferraz, 49, que teve a mama
retirada e reconstruída com tecido do abdômen, no mesmo dia.
João Ângelo Santos, 72, teve o
nariz corroído pela leishmaniose
cutânea, conhecida como úlcera
de Bauru. "Foi estragando por
dentro. Acabei viciado em respirar pela boca." Tecidos da testa do
aposentado foram usados para
refazer a parte superior do nariz.
Colaborou FABIANE LEITE, da Reportagem Local
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