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Após 10 anos, homicídio volta a subir em SP
Apesar da queda na capital e na Grande SP em 2009, interior puxa alta do índice no Estado; foram 4.771 vítimas no total
O delegado-geral atribuiu aumento à crise financeira; para o Núcleo de Estudos sobre Violência da USP, isso não justifica o crescimento
AFONSO BENITES
EVANDRO SPINELLI
ANDRÉ CARAMANTE
DA REPORTAGEM LOCAL
Pela primeira vez em dez
anos, o número de homicídios
cresceu em São Paulo em 2009,
puxado pelo aumento dos crimes no interior do Estado.
No ano passado, as polícias
paulistas registraram 4.557 homicídios (4.771 vítimas no total, porque há casos com mais
de um morto). Em 2008 foram
4.426 casos (4.690 vítimas).
Na capital e na Grande São
Paulo, permaneceu a tendência
de queda do número de assassinatos registrada desde 2000.
Porém, nas cidades do interior e do litoral, essa evolução
se reverteu e a violência voltou
a níveis similares ao de 2007.
O resultado disso é que o governo José Serra (PSDB) não
atingiu a meta de tirar o Estado
da faixa considerada "epidêmica" para homicídios -menos
de 10 casos por 100 mil habitantes, de acordo com critérios
da OMS (Organização Mundial
da Saúde)-, conforme anunciou em outubro de 2008 o sociólogo Túlio Kahn, da Secretaria de Segurança Pública. Em
2009, foram 10,95 no Estado.
O registro de queda da violência que vinha ocorrendo
em outros tipos de crime na última década -furtos e roubos/
furtos de veículos- também se
reverteu em 2009. O número
de roubos já havia crescido no
ano passado.
O governo sempre atribuiu a
redução geral nos índices de
criminalidade aos investimentos nas polícias, no aumento da
apreensão de armas e na construção de mais presídios.
Agora, questionado sobre o
assunto, o delegado-geral da
Polícia Civil, Domingos Paulo
Neto, não soube explicar o motivo do aumento dos assassinatos no interior. Ele disse que
precisava se reunir com os delegados para analisar os dados.
As duas áreas mais violentas
do Estado são ligadas aos Deinter (Departamento de Polícia
Judiciária de São Paulo - Interior) 1 -São José dos Campos,
que abrange todo o Vale do Paraíba e litoral norte- e ao Deinter 6 -com sede em Santos, que
atende a região da Baixada Santista e o litoral sul.
Os índices de homicídios
chegam próximos de 16 por 100
mil habitantes nessas duas regiões. São superiores, inclusive,
à região metropolitana de São
Paulo, onde o índice por 100
mil habitantes é de 12,3.
Foi o Deinter 6 (Santos) que
teve o maior crescimento no
número de homicídios em
2009 -37,05% sobre 2008.
Na capital, houve queda de
2,22% no número de mortes.
Na Grande SP, a redução foi
mais significativa: 10,4%.
"Em locais onde, em 2000,
havia quase 15 mortes por dia,
agora há 3,4", disse Paulo Neto.
Mesmo algumas regiões do
interior tiveram menos homicídios no ano passado. São os
casos do Deinter 4 (Bauru),
com menos 7,8%, e do Deinter
8 (Presidente Prudente), queda
de 13,5% no número de casos.
Segundo o delegado-geral, o
aumento de alguns índices criminais se deve também à crise
econômica pelo qual o país passou no final de 2008 e no primeiro trimestre de 2009. "O ciclo se encerrou no fim do primeiro trimestre. Por isso temos
alguns índices em elevação."
Equação complexa
Na avaliação de Marcelo Batista Nery, sociólogo e pesquisador do Núcleo de Estudos da
Violência da Universidade de
São Paulo, só a questão econômica não justifica o aumento
dos índices. "Segurança pública
é uma questão muito mais
complexa do que a situação socioeconômica. Ela envolve a
ação da polícia, a sociedade civil
e as empresas privadas."
Para Nery, apesar da redução
em relação ao início da década,
os crimes de homicídios deixaram de ser concentrados em regiões tidas como mais violentas
e se espalharam pelo Estado.
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