|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Com veto a caminhão, CET reduz fiscalização de obras e zona azul
Para priorizar restrição às cargas, companhia esvazia setor de concessionárias e retira fiscais experientes de estacionamento
Marronzinhos têm agora de informar seus chefes sobre multas a cada instante; empresa diz que remanejou somente 50 agentes
ALENCAR IZIDORO
RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL
Ao definir a restrição aos caminhões como prioridade número um contra a piora dos
congestionamentos em São
Paulo às vésperas das eleições,
a CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) esvaziou
nos últimos dias algumas de
suas atividades no trânsito.
Entre elas, a avaliação e a fiscalização de obras de concessionárias de serviço público ou
privado (como Eletropaulo e
Telefônica), que provocam interferência nas vias sem autorização, e de estacionamento irregular -incluindo a zona azul.
Oficialmente, a companhia
nega. Só admite ter remanejado
50 agentes de suas "atividades
rotineiras desnecessárias" nesta semana. Funcionários da
CET dizem que foram mais.
O foco na restrição ao transporte de cargas, bandeira do
prefeito Gilberto Kassab
(DEM), afetou diretamente a
rotina dos marronzinhos.
Eles são cobrados constantemente pelos chefes para informar a quantidade de multas
que aplicaram a cada momento
-e só contra os caminhões.
Na Vila Prudente (zona leste), um fiscal disse que, praticamente a cada 15 ou 20 minutos,
tem de informar ao superior os
resultados de sua fiscalização
na zona de restrição.
Em Moema (região sul), um
marronzinho afirmou que passou a receber pelo menos duas
ligações por dia da chefia só para explicar quantas multas aplicou contra os caminhões.
Durante a conversa com a reportagem, seu celular tocou.
"Até agora só peguei quatro",
respondeu ele ao superior.
Na Vila Olímpia (zona sul),
outro agente telefonava para a
central a cada veículo de carga
autuado por desrespeito à norma. "Peguei mais um", dizia.
O contingente de 500 empregados destacado pela CET para
vigiar os caminhões equivale,
aproximadamente, à metade
dos marronzinhos da cidade.
A reportagem conversou
com funcionários de alto e baixo escalões da CET -incluindo
cargos de confiança do presidente. Os relatos foram quase
unânimes: para dar prioridade
à nova fiscalização, a CET diminuiu a disponibilidade de agentes para as outras tarefas.
Eles se dividem, porém, sobre a medida: uns avaliam que a
prioridade está correta; outros
consideram que ela deixa de lado outras ações importantes.
Um dos alvos de mudança foi
um departamento criado pela
CET após a constatação de que
diversos concessionários de
serviços públicos ou privados
faziam obras nas vias sem autorização nem planejamento,
agravando os engarrafamentos.
Em dezembro de 2007, de
274 obras vistoriadas na região
central, 223 não tinham nenhum tipo de documentação.
Quatro empregados da CET
relataram que mais de cem pessoas ligadas direta ou indiretamente ao setor foram deslocadas para fiscalizar os caminhões. O sindicato dos marronzinhos confirma. A CET, não.
Agentes da zona azul também passaram a acumular suas
atividades normais com a nova
fiscalização. Os mais experientes foram, inclusive, deslocados
para priorizar a restrição aos
caminhões. A CET afirma que
eles são 21, mas que foram
substituídos por outros que
têm menos experiência.
Ontem, a Folha percorreu,
das 11h30 às 13h30, ruas da Vila
Olímpia com zona azul, como
Joaquim Floriano, Olimpíadas
e João Cachoeira. Só havia
marronzinhos em pontos fixos.
Carros sem nenhum cartão de
zona azul passavam impunes.
"É uma atribuição a mais para todo mundo. Não há capacidade para fazer toda a fiscalização", diz Luiz Antônio Queiroz,
presidente do Sindiviários.
Texto Anterior: Trânsito melhora no 3º dia de restrição em SP Próximo Texto: Medo: Marronzinhos temem aumento no nº de agressões Índice
|