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contra
Lei seca é demagógica e gera corrupção
JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA
A nova lei sobre bebida
no trânsito tem o enorme
mérito de aumentar as penas para os bêbados ao volante, que devem ser punidos severamente. Mas
tem um lado lamentável
-a equiparação dos que
bebem social e moderadamente (por exemplo,
numa refeição) com os
meliantes.
Era preciso isso para
que houvesse uma real fiscalização contra os bêbados ao volante, que com
seus ziguezagues e arrancadas tresloucadas são tão
visíveis?
Antes o nível aceitável
no Brasil já era rigoroso,
equiparável a países da
América do Norte e da Europa. Nestes, há tolerância
com níveis moderados de
bebida alcoólica no trânsito, mas não com bêbados.
É por isso que nos Estados
Unidos, no Canadá, na Inglaterra as pessoas são
muito comedidas ao beber
quando vão dirigir: porque
sabem que o excesso será
punido de verdade.
No Brasil, optou-se pela
demagogia. Não é ainda a
proibição total do álcool,
mas é um belo passo: a lei
dos sonhos dos moralistas,
dos fanáticos religiosos,
dos que sonham com uma
humanidade conformada,
careta e muito bem amestrada (típico destas leis de
"tolerância zero", como a
política fascistóide do ex-prefeito Rudolph Giuliani,
de Nova York: "atire antes
e nem pergunte depois",
pois a população em seu
curral é por definição criminosa, o grande pai deve
decidir por ela).
A bolsa de corrupção
já deve estar bombando
(as cotações começando
em R$ 1.000), pois toda
norma exagerada estimula
a propina.
E, como os fatos já mostram, o rico bêbado continua atropelando e ficando
solto, o caminhoneiro pobre fica em cana quando é
pego.
Mais uma lei que livra a
cara dos ricos, joga água no
moinho da caretice e sequer garante que, depois
do show midiático, será
realmente efetiva para
coibir o verdadeiro problema -não o bebedor
responsável, mas o bêbado
criminoso que já deveria
estar sendo contido, mas
nunca foi. Será agora?
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