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foco
Sem entrada de pedestres, shopping para classe A vira atração
para classe D
VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Com uma sacola de supermercado que trazia o lanche
da tarde na mão e os olhos na
vitrine da joalheria Tiffany &
Co, a copeira Maria Barbosa
pergunta: "Essa loja é de
quê?" De mãos dadas com ela,
o servente Derly Santos também se intriga, desta vez com
a bombonière Chocolat du
Jour. "Como se pronuncia o
nome dessa loja?"
O casal não teve resposta,
mas isso pouco importa. Eles
estavam lá, num sábado de
folga, para passear pela primeira vez entre as lojas do
shopping Cidade Jardim.
Projetado sem praça de alimentação e sem entrada de
pedestres para se restringir
ao público A, o complexo de
R$ 1,5 bilhão virou atração
para a baixa renda.
O namoro das classes D e E,
pessoas com renda familiar
média de R$ 580, com o Cidade Jardim começou com a
criação de um ponto de ônibus na marginal, em frente ao
shopping, para atender os
funcionários. Linhas como
Jardim Ângela e Terminal
Santo Amaro param por ali.
Foi uma dessas que o casal
Derly e Maria tomou para
descer por lá. Como não podiam atravessar a marginal
do rio Pinheiros, tiveram de
fazer uma baldeação na avenida 9 de Julho pagando só
uma passagem com um bilhete único. E assim chegaram a
um dos empreendimentos
mais comentados dos últimos
tempos em São Paulo.
Aquele que se anuncia "o
mais luxuoso do país", o Cidade Jardim tem lojas de grifes
como Chanel, Armani e Rolex, algumas inéditas.
E foi justamente essa exclusividade e sofisticação que
atiçou a curiosidade das pessoas que não são o público-alvo do shopping, por assim dizer, e passeiam por ali sem
entender muito bem os preços altos de Hermès e Louis
Vuitton. Ou ainda a sinalização bilíngüe, em inglês.
"Só tem loja estrangeira,
queria que tivesse uma Marisa. A gente que é da periferia
vem só para conhecer. No
shopping Ibirapuera não discriminam tanto quanto aqui",
diz Maria. "Pela maneira que
me olham já percebo que é diferente", afirma Derly.
"Foi um tiro no pé", reclama a designer e socialite Andréia Albuquerque Magalhães sobre a diversidade do
público do shopping, o que
tem deixado ela e as amigas
danadas da vida.
"Olha a Daslu, está toda revirada, parece uma dessas lojas mais populares. Na Vila
Nova Conceição não era assim", diz a produtora Patrícia
Aguiar sobre a butique multimarca -âncora do shopping.
"Nossa intenção sempre foi
fazer um shopping bacana para cidade. Fico feliz mesmo de
ver todo tipo de gente. Acho o
máximo", afirma Sharon Beting, diretora do shopping.
"Isto é inédito", é o slogan
do Cidade Jardim.
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