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CHOQUE CONTROLADO
Chance de evitar morte súbita é maior com desfibriladores automáticos, que podem ser operados por leigos
Cardíacos já têm pronto-socorro portátil
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O desfibrilador -aparelho usado para reverter parada cardíaca- deixou de ser usado apenas
por médicos e paramédicos e já
pode ser comprado por leigos. O
desenhista Maurício de Sousa e o
marqueteiro Nizan Guanaes, por
exemplo, já têm os seus e treinaram familiares, seguranças e motoristas para manuseá-los em
uma situação de emergência.
A tendência vem dos EUA, onde
o FDA (órgão que regula alimentos e fármacos) aprovou a venda
do aparelho em farmácias sem
prescrição médica. No Brasil,
além da prescrição ser exigida,
existe a recomendação de que as
pessoas próximas façam treinamento em primeiros socorros.
Portáteis e do tamanho de um
laptop, os modelos disponíveis no
país custam de US$ 2.000 a US$
4.000, são automáticos e reproduzem gravações -em português- que orientam o leigo a
manuseá-los. O aparelho pode ser
programado para dar choques
"personalizados", conforme o peso da pessoa, por exemplo.
Entre os médicos, há controvérsia sobre a validade do uso pessoal
do desfibrilador. "É uma loucura", diz o clínico-geral Milton Glezer, do hospital Albert Einstein.
O cardiologista Daniel Born, da
Unifesp (Universidade Federal de
São Paulo), não vê problema no
uso, "desde que haja pessoas treinadas para o socorro".
Para Glezer, o uso pessoal do
aparelho pode gerar uma "neurose", pois, para ser efetivo, é preciso que "vítima em potencial" esteja sempre acompanhada de pessoas treinadas.
A idéia é que a "popularização"
do desfibrilador reduza os números de morte súbita (parada súbita do coração que pode acontecer
com ou sem sintomas), segundo o
cardiologista Sérgio Timerman,
do Incor (Instituto do Coração do
Hospital das Clínicas), de São
Paulo, e presidente da Fundação
Interamericana do Coração.
No mundo, essa síndrome mata
mais do que a Aids, os homicídios
e os acidentes de trânsito. No Brasil, estima-se que 160 mil pessoas
morram por ano vítimas de morte súbita -95% antes de serem
hospitalizadas. Apesar do nome
da síndrome, a vítima pode se recuperar se for socorrida rápida e
corretamente.
Timerman diz que cerca de 90%
das mortes súbitas ocorrem por
fibrilação ventricular (o coração
bate acelerada e desordenadamente), que pode ser corrigida
somente com os choques aplicados pelo desfibrilador.
Pessoas que tenham antecedentes na família, como é o caso de
Maurício de Sousa e Nizan Guanaes, têm maior possibilidade de
ter uma morte súbita.
Se não for socorrido, alguém
com parada cardiorrespiratória
-que pode decorrer da síndrome ou de outros problemas-
perde, a cada minuto, 10% da
chance de sobreviver. Poucos sobrevivem além dos dez minutos.
Foi exatamente nessas condições que morreram os jogadores
Marc Vivian Foe e Miklos Fehér,
dos Camarões e do Benfica, respectivamente, sob os holofotes
das TVs. "Se houvesse um desfibrilador por perto, certamente
eles teriam tido chances de sobreviver", acredita Timerman.
O uso do aparelho deve ganhar
mais força a partir do próximo
ano, quando a Aliança Internacional dos Comitês de Emergência e Ressuscitação vai anunciar,
em suas novas diretrizes, que os
choques devem ser o primeiro
procedimento a ser adotado nos
primeiros quatro minutos de parada cardiorrespiratória, quando
há 70% de chances de sobrevida.
Hoje, primeiro se tenta a reanimação com massagens e respiração boca-a-boca. "Quanto mais
rápido for o choque, maiores serão as chances de sobrevivência",
diz o cardiologista Elias Knobel,
do hospital Albert Einstein.
Projeto de lei do senador Tião
Viana (PT-AC), que ainda depende de aprovação na Câmara dos
Deputados, prevê a obrigatoriedade de desfibriladores em locais
públicos com aglomeração ou circulação igual ou acima de 2.000
pessoas por dia, como aeroportos, centros comerciais, estádios e
hotéis. A mesma regra é prevista
para meios de transporte com capacidade igual ou superior a cem
passageiros, além de ambulâncias
e carros de resgate, policiais e de
bombeiros.
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