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SAÚDE
Doença que causa dilatação das veias do ânus afeta 80% da população e tem sintomas parecidos com o do câncer retal
Vergonha adia diagnóstico de hemorróida
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Mais de 80% da população convive com ela, mas, por medo ou
vergonha, poucas pessoas procuram ajuda médica. Trata-se da
doença das hemorróidas, um processo de dilatação do calibre das
veias da região anal que pode ser
agravado pelos excessos alimentares e alcoólicos cometidos nas
festas de final de ano.
Adiar o tratamento pode levar
ao agravamento da doença.
Quando atingem o grau mais
avançado, os chamados mamilos
hemorroidários só podem ser removidos com cirurgia.
Outro perigo é que a falta de
avaliação médica pode retardar o
diagnóstico de doenças graves,
como o câncer retal, que tem sintomas -como sangramento e
constipação-, semelhantes aos
provocados pelas hemorróidas.
Sangramento anal, especialmente em pessoas acima de 40
anos (faixa etária de maior incidência do câncer do reto), deve
ser avaliado imediatamente por
um proctologista, alerta o cirurgião-geral Vandyck Neves da Silveira, do Hospital Santa Catarina.
As pessoas, porém, não devem
se impressionar apenas com os
sintomas. "O fato de ter hemorróidas não é indicativo de câncer.
Não há nenhuma relação entre
uma coisa e outra. Também não
quer dizer que a única solução seja a cirurgia. Hoje há várias opções de tratamento", diz Silveira.
A alimentação inadequada -
especialmente as dietas pobres
em fibras e a pouca ingestão de líquidos- associada a uma vida
sedentária leva a um esforço evacuatório, o que pode desencadear
a doença hemorroidária, de acordo com a proctologista Margareth
da Rocha Fernandes, do Hospital
do Servidor Estadual e membro
da Sociedade Brasileira de Coloproctologia. Sexo anal, ao contrário do que muitos imaginam, não
provoca hemorróidas.
Hábitos errados, como o de ler
sentado no vaso sanitário, também podem aumentar o número
de "crises" das hemorróidas por
provocar uma pressão na área retal, diz a proctologista Mariza Helena Prado-Kobata, professora da
disciplina de gastroenterologia cirúrgica da Unifesp (Universidade
Federal de São Paulo).
Tratamento
Em geral, nos graus iniciais, o
tratamento da doença hemorroidária é clínico, à base de pomadas
anestésicas, reguladores intestinais e orientação para mudança
de hábitos alimentares. No caso
das hemorróidas internas, pode
ser indicada a ligadura elástica,
que dispensa anestesia.
Segundo os médicos, técnicas
muito usadas no passado, como a
crioterapia (aplicação de nitrogênio líquido que causa a necrose da
hemorróida) e a fotocoagulação
(aplicação de raios infravermelhos na mucosa e submucosa retal), estão hoje em desuso.
No grau 4, em que as hemorróidas ficam fora do canal retal, a indicação é quase sempre cirúrgica.
Uma nova técnica é a do grampeamento, que possibilita um
pós-operatório mais rápido e indolor. Nas cirurgias convencionais, a cicatrização total leva em
média um mês, período em que a
pessoa costuma sentir dor durante as evacuações.
Nos casos de hemorróidas externas ou mistas, os cirurgiões
costumam optar pela técnica convencional (hemorroidectomia),
que pode ser aberta (a cicatrização ocorre espontaneamente), fechada ou semifechada.
De acordo com Silveira, a hemorroidectomia aberta permite
uma cicatrização mais uniforme.
O inconveniente é que a cicatrização é mais lenta e dolorosa.
Na técnica fechada, o principal
problema é a perda dos pontos e
um risco maior de ocorrer estenose (estreitamento do canal anal).
Para os médicos, a cirurgia a laser
não provou ser melhor que as outras, especialmente porque a cicatrização costuma ser anômala.
"Não há uma técnica superior a
outra. A ideal é aquela que o cirurgião está acostumado a fazer", diz
Prado-Kobata.
De acordo com os proctologistas, até 10% das pessoas que operaram as hemorróidas podem
voltar a apresentar o problema,
anos mais tarde, em outras veias.
Fernandes diz que a recidiva pode acontecer em casos em que a
cirurgia foi incompleta. "Feita em
fase precoce, é possível que fiquem outros mamilos, que vão se
desenvolver com o tempo."
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