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São Paulo, domingo, 04 de maio de 2003

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Área recebeu lixo industrial até década de 70

DA REPORTAGEM LOCAL

Uma área de matagal, um bota-fora, um lixão. As descrições, feitas por moradores e pela Cetesb, se aplicam à região da favela Paraguai, antes de ela ser ocupada.
Comprado pela Sabesp em 1980, o terreno, onde seria construída uma estação de esgoto, pertenceu à Cetenco Engenharia e a Antonieta Chaves Cintra Gordinho, segundo registros da empresa.
A Sabesp afirma que, desde que se tornou dona da área, nada mais foi depositado no terreno.
A Folha tentou localizar diretores da empresa Cetenco desde a última quarta-feira, mas não encontrou ninguém em um telefone que aparece no nome da companhia, em Guarantã (a 420 km de São Paulo).
A reportagem também tentou levantar o histórico da área com parentes da antiga proprietária, morta em 97. Ela não tinha herdeiros, e seus bens são administrados atualmente por uma fundação, cuja direção não respondeu ao recado deixado pela reportagem, também na quarta-feira passada.

Bota-fora
"Quando eu tinha oito ou nove anos, pegava ferro nesse terreno para vender. Aqui era um bota-fora de indústria", diz Adão Gomes Silva, que morava próximo à área, hoje vive num barraco sob o viaduto Grande São Paulo, em frente à favela, e preside a associação de moradores.
"Isso aqui era um imenso matagal", afirma José Viana da Silva, 44, que foi um dos primeiros moradores da favela e já está na Paraguai há aproximadamente 11 anos.
Pelos registros da Prefeitura de São Paulo, a ocupação da área começou em 1992. Na época, segundo os moradores mais antigos, pessoas já viviam sob o viaduto Grande São Paulo.
As enchentes do rio Tamanduateí acabaram empurrando parte dos moradores que estavam debaixo do viaduto para o terreno da Sabesp, que, até o início deste ano, nunca tinha tentado tirar as pessoas de lá.
Desde que surgiu, a favela só aumentou. "Quando vim para cá, eram três barracos", conta José Viana da Silva.
De acordo com o Censo, em 2000, havia 345 domicílios e 1.247 moradores no local. Já em um cadastramento realizado pelo Distrito de Saúde de Vila Prudente, em fevereiro passado, 484 domicílios teriam sido visitados.
Pelas contas dos moradores, hoje já haveria cerca de 700 famílias morando na favela. A CDHU, porém, informa ter cadastrado 450.
O cadastramento foi feito após o incêndio que destruiu 300 barracos da favela, em dezembro do ano passado.
Além de ter enfrentado três incêndios, dois deles em 2002, a favela Paraguai também sobreviveu a uma guerra entre os grupos liderados pelos traficantes Wilson Andrade Souza, o Barriga, e Lusérgio Soares de Oliveira, o Sujeirinha, que deixou um saldo de 26 mortos entre o fim de 99 e começo de 2000.
Os traficantes chegaram a expulsar 390 famílias da favela, mas elas acabaram voltando. Barriga e Sujeirinha estão presos. (JCS e MV)

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