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Área recebeu lixo industrial até década de 70
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma área de matagal, um
bota-fora, um lixão. As descrições, feitas por moradores e pela Cetesb, se aplicam
à região da favela Paraguai,
antes de ela ser ocupada.
Comprado pela Sabesp em
1980, o terreno, onde seria
construída uma estação de
esgoto, pertenceu à Cetenco
Engenharia e a Antonieta
Chaves Cintra Gordinho, segundo registros da empresa.
A Sabesp afirma que, desde que se tornou dona da
área, nada mais foi depositado no terreno.
A Folha tentou localizar
diretores da empresa Cetenco desde a última quarta-feira, mas não encontrou ninguém em um telefone que
aparece no nome da companhia, em Guarantã (a 420
km de São Paulo).
A reportagem também
tentou levantar o histórico
da área com parentes da antiga proprietária, morta em
97. Ela não tinha herdeiros, e
seus bens são administrados
atualmente por uma fundação, cuja direção não respondeu ao recado deixado
pela reportagem, também
na quarta-feira passada.
Bota-fora
"Quando eu tinha oito ou
nove anos, pegava ferro nesse terreno para vender. Aqui
era um bota-fora de indústria", diz Adão Gomes Silva,
que morava próximo à área,
hoje vive num barraco sob o
viaduto Grande São Paulo,
em frente à favela, e preside a
associação de moradores.
"Isso aqui era um imenso
matagal", afirma José Viana
da Silva, 44, que foi um dos
primeiros moradores da favela e já está na Paraguai há
aproximadamente 11 anos.
Pelos registros da Prefeitura de São Paulo, a ocupação
da área começou em 1992.
Na época, segundo os moradores mais antigos, pessoas
já viviam sob o viaduto
Grande São Paulo.
As enchentes do rio Tamanduateí acabaram empurrando parte dos moradores que estavam debaixo
do viaduto para o terreno da
Sabesp, que, até o início deste ano, nunca tinha tentado
tirar as pessoas de lá.
Desde que surgiu, a favela
só aumentou. "Quando vim
para cá, eram três barracos",
conta José Viana da Silva.
De acordo com o Censo,
em 2000, havia 345 domicílios e 1.247 moradores no local. Já em um cadastramento
realizado pelo Distrito de
Saúde de Vila Prudente, em
fevereiro passado, 484 domicílios teriam sido visitados.
Pelas contas dos moradores, hoje já haveria cerca de
700 famílias morando na favela. A CDHU, porém, informa ter cadastrado 450.
O cadastramento foi feito
após o incêndio que destruiu
300 barracos da favela, em
dezembro do ano passado.
Além de ter enfrentado
três incêndios, dois deles em
2002, a favela Paraguai também sobreviveu a uma guerra entre os grupos liderados
pelos traficantes Wilson Andrade Souza, o Barriga, e Lusérgio Soares de Oliveira, o
Sujeirinha, que deixou um
saldo de 26 mortos entre o
fim de 99 e começo de 2000.
Os traficantes chegaram a
expulsar 390 famílias da favela, mas elas acabaram voltando. Barriga e Sujeirinha
estão presos.
(JCS e MV)
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