São Paulo, domingo, 04 de junho de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Secretário da Segurança segue os passos de Fleury Filho

LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL

Graduado em direito nas Faculdades Metropolitanas Unidas, FMU. Concurso e ingresso no Ministério Público. Então, titular da Segurança Pública do Estado de São Paulo. Linha-dura. O perfil acima aplica-se ao ex-governador Luiz Antonio Fleury Filho, hoje deputado pelo PTB. Também cabe em Saulo de Castro Abreu Filho, que não esconde a vontade de se tornar prefeito ou governador.
Os críticos de Fleury-Saulo no Ministério Público apontam uma coincidência extra: os dois são acusados em matanças promovidas por PMs. No caso do ex-governador, o massacre de 111 presos no Carandiru, em 1992, durante seu mandato. No caso do atual secretário, matança contra supostos suspeitos de pertencer à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital), na esteira dos ataques a policiais civis e militares, entre os dias 12 e 18 últimos.
Filiado ao PSDB desde outubro de 2003 para tentar (sem sucesso) sair candidato à sucessão da prefeita Marta Suplicy (PT), o atual secretário da Segurança é visto como um estranho no ninho por tucanos históricos, gente com passado de defesa dos direitos humanos, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o candidato ao governo José Serra.
Os companheiros de partido até já gostaram de Saulo. O ano era 1995, durante o primeiro mandato de Mário Covas (1930-2001), quando o então promotor (entrou para o Ministério Público em 1987) foi chamado para o governo com a missão de repactuar contratos -Covas suspeitava que havia muitos superfaturados.
"E havia", atesta Antonio Angarita, vice-diretor da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas, na época secretário de Governo. "Trabalhador obsessivo e de resultados, Saulo montou uma equipe competente para a Corregedoria, tornou-se temido por funcionários e fornecedores e, de fato, conseguiu resultados expressivos em termos de economia."
Foi tão bem-sucedido que, em janeiro de 2001, Covas voltou a chamá-lo, agora para presidir a Febem -como sempre às voltas com rebeliões sangrentas. Na cerimônia de posse de Saulo, Covas (já combalido pelo câncer que o mataria menos de dois meses depois) passou 15 minutos tentando discursar, mas as palavras não lhe saíram. Foi um início triste, mas, durante um ano, a Febem manteve-se em relativa calma.
Geraldo Alckmin assumiu com nova abordagem da segurança pública, sintetizada em frases como: "Em São Paulo, bandido tem dois destinos: a prisão ou o caixão". Muita gente viu no discurso uma reedição de bordões malufistas. Em 22 de janeiro de 2002, o então secretário da Segurança Marco Vinicio Petrelluzzi demitiu-se. Saulo foi para o lugar.
Com pouco mais de um mês no posto, ele comemorava o sucesso na chamada Operação Castelinho, que depois virou uma dor de cabeça. No episódio, 12 homens vinculados ao PCC foram mortos pela polícia em um pedágio na rodovia Senador José Ermírio de Moraes, conhecida como Castelinho, perto de Sorocaba (100 km de São Paulo). Nenhum policial feriu-se. De cara, Saulo vangloriou-se: "[A polícia] usou instrumentos de inteligência" ou "Foi um primor de operação" ou "Não é essa a polícia dos sonhos de todo mundo?".
Logo, entretanto, apareceram indícios de tortura, abuso de autoridade e infiltração de presos condenados em quadrilhas de criminosos. "Infelizmente, a gente que é da polícia sabe que não existe placar de 12 a zero que não seja um massacre", disse à Folha um agente público envolvido na operação. Com as denúncias, Saulo mudou de argumento: "Eu não tinha conhecimento da infiltração de presos nas quadrilhas".
O pedido de investigação contra o secretário da Segurança por causa do caso Castelinho, feito pelo procurador-geral da época, Luiz Antônio Guimarães Marrey, um ex-companheiro de lutas no Ministério Público, foi o começo do distanciamento de Saulo da turma que o abrigou nos primeiros anos dentro do órgão.
"Ele não era da "bancada da bala" no MP. Virou depois do episódio Castelinho", lembra um ex-colega. Outro emenda: "O Saulo é muito leal. Talvez não tenha digerido bem a denúncia vinda de um colega de quem se sentia tão próximo".
Em 16 de fevereiro de 2005, desembargadores do órgão especial do Tribunal de Justiça decidiram arquivar o inquérito sobre o envolvimento de Saulo no caso Castelinho.

Briga de trânsito
No dia 14 de maio de 2005, o secretário ia jantar no restaurante Kosushi, no Itaim Bibi. Indignado com uma interrupção do trânsito na rua Viradouro, Saulo acionou seus subordinados. Vieram agentes do GOE, grupo de elite da polícia civil, que prenderam o manobrista e um dos donos do restaurante.
Depois, descobriu-se que a confusão no trânsito havia sido provocada por cones colocados pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Rodrigo Pinho, procurador-geral denunciou abuso de autoridade. Saulo disse que apenas pediu averiguação do que ocorria. O Tribunal de Justiça deve decidir nos próximos dias se acata a denúncia e transforma Saulo em réu.
Em mais uma confusão, o carro de uma professora da USP encostou no do secretário em frente a um supermercado na praça Panamericana, no bairro de Alto de Pinheiros, onde ele mora. Ficou um arranhão. Como o bate-boca comum nesses casos não chegasse a um acordo, conta uma testemunha, Saulo chamou a PM, que chegou em vários veículos.
Dono de estilo explosivo, chefe da pasta que é um nervo exposto no governo, lidando com o crime organizado (com todos os riscos aí incluídos), Saulo é meticuloso no trato da comunicação. Se o ex-secretário Petrelluzzi tinha três homens encarregados de lidar com jornalistas, hoje são mais de 30. Às vezes eles falham: na sexta-feira, dois garantiram à Folha que o secretário tinha se graduado na PUC. Mas foi na mesma escola de Fleury.


Texto Anterior: Entrevista - Saulo de Castro Abreu Filho: Sistema prisional virou monstrengo, e não foi por falta de aviso
Próximo Texto: Interior de SP: Acidente de ônibus mata bebê de 9 meses
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.