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Secretário da Segurança segue os passos de Fleury Filho
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Graduado em direito nas Faculdades Metropolitanas Unidas, FMU. Concurso e ingresso
no Ministério Público. Então,
titular da Segurança Pública do
Estado de São Paulo. Linha-dura. O perfil acima aplica-se ao
ex-governador Luiz Antonio
Fleury Filho, hoje deputado pelo PTB. Também cabe em Saulo
de Castro Abreu Filho, que não
esconde a vontade de se tornar
prefeito ou governador.
Os críticos de Fleury-Saulo
no Ministério Público apontam
uma coincidência extra: os dois
são acusados em matanças promovidas por PMs. No caso do
ex-governador, o massacre de
111 presos no Carandiru, em
1992, durante seu mandato. No
caso do atual secretário, matança contra supostos suspeitos de pertencer à facção criminosa PCC (Primeiro Comando
da Capital), na esteira dos ataques a policiais civis e militares,
entre os dias 12 e 18 últimos.
Filiado ao PSDB desde outubro de 2003 para tentar (sem
sucesso) sair candidato à sucessão da prefeita Marta Suplicy
(PT), o atual secretário da Segurança é visto como um estranho no ninho por tucanos históricos, gente com passado de
defesa dos direitos humanos,
como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o candidato ao governo José Serra.
Os companheiros de partido
até já gostaram de Saulo. O ano
era 1995, durante o primeiro
mandato de Mário Covas
(1930-2001), quando o então
promotor (entrou para o Ministério Público em 1987) foi
chamado para o governo com a
missão de repactuar contratos
-Covas suspeitava que havia
muitos superfaturados.
"E havia", atesta Antonio Angarita, vice-diretor da Escola de
Direito da Fundação Getulio
Vargas, na época secretário de
Governo. "Trabalhador obsessivo e de resultados, Saulo
montou uma equipe competente para a Corregedoria, tornou-se temido por funcionários e fornecedores e, de fato,
conseguiu resultados expressivos em termos de economia."
Foi tão bem-sucedido que,
em janeiro de 2001, Covas voltou a chamá-lo, agora para presidir a Febem -como sempre
às voltas com rebeliões sangrentas. Na cerimônia de posse
de Saulo, Covas (já combalido
pelo câncer que o mataria menos de dois meses depois) passou 15 minutos tentando discursar, mas as palavras não lhe
saíram. Foi um início triste,
mas, durante um ano, a Febem
manteve-se em relativa calma.
Geraldo Alckmin assumiu
com nova abordagem da segurança pública, sintetizada em
frases como: "Em São Paulo,
bandido tem dois destinos: a
prisão ou o caixão". Muita gente viu no discurso uma reedição
de bordões malufistas. Em 22
de janeiro de 2002, o então secretário da Segurança Marco
Vinicio Petrelluzzi demitiu-se.
Saulo foi para o lugar.
Com pouco mais de um mês
no posto, ele comemorava o sucesso na chamada Operação
Castelinho, que depois virou
uma dor de cabeça. No episódio, 12 homens vinculados ao
PCC foram mortos pela polícia
em um pedágio na rodovia Senador José Ermírio de Moraes,
conhecida como Castelinho,
perto de Sorocaba (100 km de
São Paulo). Nenhum policial feriu-se. De cara, Saulo vangloriou-se: "[A polícia] usou instrumentos de inteligência" ou
"Foi um primor de operação"
ou "Não é essa a polícia dos sonhos de todo mundo?".
Logo, entretanto, apareceram indícios de tortura, abuso
de autoridade e infiltração de
presos condenados em quadrilhas de criminosos. "Infelizmente, a gente que é da polícia
sabe que não existe placar de 12
a zero que não seja um massacre", disse à Folha um agente
público envolvido na operação.
Com as denúncias, Saulo mudou de argumento: "Eu não tinha conhecimento da infiltração de presos nas quadrilhas".
O pedido de investigação
contra o secretário da Segurança por causa do caso Castelinho, feito pelo procurador-geral da época, Luiz Antônio Guimarães Marrey, um ex-companheiro de lutas no Ministério
Público, foi o começo do distanciamento de Saulo da turma
que o abrigou nos primeiros
anos dentro do órgão.
"Ele não era da "bancada da
bala" no MP. Virou depois do
episódio Castelinho", lembra
um ex-colega. Outro emenda:
"O Saulo é muito leal. Talvez
não tenha digerido bem a denúncia vinda de um colega de
quem se sentia tão próximo".
Em 16 de fevereiro de 2005,
desembargadores do órgão especial do Tribunal de Justiça
decidiram arquivar o inquérito
sobre o envolvimento de Saulo
no caso Castelinho.
Briga de trânsito
No dia 14 de maio de 2005, o
secretário ia jantar no restaurante Kosushi, no Itaim Bibi.
Indignado com uma interrupção do trânsito na rua Viradouro, Saulo acionou seus subordinados. Vieram agentes do GOE,
grupo de elite da polícia civil,
que prenderam o manobrista e
um dos donos do restaurante.
Depois, descobriu-se que a
confusão no trânsito havia sido
provocada por cones colocados
pela Companhia de Engenharia
de Tráfego (CET). Rodrigo Pinho, procurador-geral denunciou abuso de autoridade. Saulo
disse que apenas pediu averiguação do que ocorria. O Tribunal de Justiça deve decidir nos
próximos dias se acata a denúncia e transforma Saulo em réu.
Em mais uma confusão, o
carro de uma professora da
USP encostou no do secretário
em frente a um supermercado
na praça Panamericana, no
bairro de Alto de Pinheiros, onde ele mora. Ficou um arranhão. Como o bate-boca comum nesses casos não chegasse a um acordo, conta uma testemunha, Saulo chamou a PM,
que chegou em vários veículos.
Dono de estilo explosivo,
chefe da pasta que é um nervo
exposto no governo, lidando
com o crime organizado (com
todos os riscos aí incluídos),
Saulo é meticuloso no trato da
comunicação. Se o ex-secretário Petrelluzzi tinha três homens encarregados de lidar
com jornalistas, hoje são mais
de 30. Às vezes eles falham: na
sexta-feira, dois garantiram à
Folha que o secretário tinha se
graduado na PUC. Mas foi na
mesma escola de Fleury.
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