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Trauma atrapalha a vida das vítimas
DA REPORTAGEM LOCAL
Um dos jovens entra em pânico
cada vez que vê um carro da polícia. A garota não quer sair de casa.
Os outros se mudaram para cidades do interior. Assim vivem os
suspeitos de roubar um PM em
São Bernardo do Campo, segundo eles mesmos e seus familiares,
desde que foram soltos e passaram a temer represálias por denunciarem uma suposta tortura.
Carlos (nome fictício), afirma
que foi um dos mais agredidos.
Em entrevistas para a televisão na
época do incidente, o soldado da
PM Wilson Russi Schilive disse
que foi Carlos quem deu um tapa
em sua filha de três anos durante
o assalto.
"Não podia dizer que era inocente porque senão apanhava
mais", diz Carlos. Ele afirma que
levou socos, pontapés e teve dedos machucados com o uso de
uma alicate e de um martelo na
base comunitária da PM. Ele afirma que teve dificuldade para respirar durante um mês.
Segundo Carlos, ele e os demais
foram levados para a base e apanharam ao mesmo tempo, em locais diferentes do prédio.
"Houve muita gritaria. Pessoas
que passaram pelo local disseram
que ouviram os berros." Familiares dizem que fizeram contato
com essas pessoas, mas elas não
teriam aceitado testemunhar por
medo de represálias.
Hoje, Carlos diz que seu maior
temor é de um flagrante forjado
pela PM de algum crime. "Eu ando olhando para trás. Se vejo um
carro da polícia, fico em pânico."
José (nome fictício), pai de um
dos garotos presos, diz que chegou a acreditar, no primeiro momento, na versão da polícia de
que os jovens teriam participado
de um roubo de carro.
"Eles [os policiais] fizeram uma
confusão tão grande que acreditei
que eram [os jovens] culpados.
Nos dias seguintes, descobri a farsa", afirma José.
Ele diz que viu quando Carlos,
amigo de seu filho, foi preso pela
PM. Passou na escola do filho para falar sobre a prisão e deu carona para outros dois colegas.
Quando chegava na casa da prima de Carlos, para avisar sobre o
incidente, o grupo foi cercado pela polícia. O filho de José e os outros dois jovens também foram
presos. Uma garota, ex-namorada de um dos presos, foi presa em
uma rua vizinha.
José tentou seguir os carros da
polícia, mas ficou preso no trânsito. Quando chegou no 3º DP de
São Bernardo do Campo, ele não
encontrou os jovens. Temerosos,
familiares dos presos entraram
em contato com um oficial da PM
conhecido para ajudar na localização dos jovens.
A cobrança por informações
feita por esse oficial é descrita em
gravações do Copom (central de
operações da PM). Os jovens chegaram no distrito mais de uma
hora depois, segundo José.
Familiares dos jovens presos já
pediram informações do Provita
(Programa de Proteção a Vítimas
e a Testemunhas Ameaçadas) de
São Paulo.
"Os policias continuam na rua.
Temos medo do que possa ocorrer. Mas se a gente ficar omisso, o
que pode acontecer? ", questiona
Fátima (nome fictício), prima de
um dos jovens presos.
O advogado Ulisses Leite Reis,
membro da comissão de direitos
humanos da OAB (Ordem dos
Advogados do Brasil) de São Bernardo e defensor de um dos jovens, afirma que os indícios não
deixam dúvidas sobre a ocorrência de abuso policial.
"Os jovens foram torturados e
acusados injustamente. Esse caso
merece uma apuração o mais rápido possível", disse Reis.
(GP)
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