|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENTREVISTA
Violência doméstica é "mãe" da crise social
DA REPORTAGEM LOCAL
Casos como o da babá que foi
flagrada espancando três crianças
em Aparecida de Goiânia (GO)
são comuns no país. As agressões
são a principal causa externa de
mortalidade na faixa etária de cinco a 19 anos no Brasil. Representam cerca de 23% de todas as
mortes de crianças e adolescentes
nessa faixa de idade, segundo dados do Ministério da Saúde.
Para a pediatra Rachel Niskier
Sanchez, coordenadora-executiva da Campanha Nacional de Prevenção de Acidentes e Violência
na Infância e Adolescência
-criada há quatro anos pela Sociedade Brasileira de Pediatria-
e conselheira titular do Conanda
(Conselho Nacional dos Direitos
da Criança e do Adolescente), a
violência doméstica potencializa
a violência social e ocorre de forma velada entre os mais ricos.
Folha - Por que a sociedade assumiu essa causa?
Rachel Niskier Sanchez - Achamos que era preciso fazer algo.
Somos hoje 35 mil pediatras. É como se funcionássemos como uma
encruzilhada pela qual passam
praticamente todos os casos. Em
algum momento, a vítima de
maus-tratos procura um serviço
de saúde e, sendo criança ou adolescente, é atendida pelo pediatra.
Folha - Qual o papel do pediatra
na identificação do problema?
Rachel - A primeira coisa a fazer
é reconhecer o caso. Para isso, ele
tem que estar capacitado e informado, é como se fosse uma doença que ele tem que conhecer os sinais e os sintomas. Cabe ao pediatra reconhecer o caso através de
uma boa história clínica e um exame físico apurado. Ele trata os sinais que aparecem, se for o caso
de violência física. Orienta ou encaminha para um psicólogo ou
psiquiatra, se for um caso de violência psicológica. Se for um caso
de negligência, pode encaminhar
o caso para o assistente social. Ao
mesmo tempo, faz a notificação
ao Conselho Tutelar da sua cidade
ou a outra instância. Tem obrigação de fazer isso, pois pode ser penalizado por se omitir. Depois,
deve continuar acompanhando o
caso. Não fazer isso é como encaminhar um doente de pneumonia
para raio-x e depois dizer tchau.
Folha - A violência doméstica é o
problema mais sério?
Rachel - Sim. Faço visitas no Brasil inteiro a instituições como a
Febem. Sempre pergunto aos
adolescentes por que eles acabaram cometendo um ato em conflito com a lei. Todos até hoje, sem
exceção, disseram que saíram de
casa para fugir da violência. A violência doméstica potencializa a
violência social. É um problema
generalizado, não tem classe social. A diferença é que as classes
mais abastadas podem procurar
um consultório particular e a
agressão acaba não indo pra estatística. Os que não têm recursos
procuram mais os equipamentos
públicos. O que existe é maior ou
menor visibilidade.
(BL)
Texto Anterior: Agenda Próximo Texto: Vestibular: Fuvest começa a vender manual do candidato amanhã Índice
|