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"Foi um inferno", dizem jovens sobre prisão
Questionados sobre sessões de tortura, denunciadas por eles à época da prisão, os três rapazes se recusaram a falar
Renato, William e Wagner ficaram presos durante dois anos, acusados de estuprar e matar a ex-namorada de Renato, Vanessa de Freitas
Joel Silva/Folha Imagem
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Wagner Conceição da Silva, William Brito Silva e Renato Correia de Brito, soltos após 2 anos na prisão
JULIANA COISSI
EM SÃO PAULO
RACHEL COSTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Renato Correia de Brito, 24,
seu primo, William César de
Brito Silva, 28, e seu amigo,
Wagner Conceição da Silva, 25,
soltos ontem depois de passar
dois anos na prisão por um crime que não cometeram, dizem
que agora só querem abraçar a
família e retomar a vida.
Eles afirmam que será difícil
esquecer os dois anos passados
na prisão sob a acusação de ter
violentado sexualmente e matado Vanessa Batista de Freitas, 22, ex-namorada de Renato. "Foi um inferno. Em um espaço para 12 pessoas na cela estavam 40. A família ficou presa
conosco", conta William.
O sofrimento deixou marcas.
Com síndrome do pânico, a
mulher de William não sai de
carro sem a família nem entra
sozinha em elevador. "Logo
que ele foi preso, a gente direto
tinha que levá-la ao hospital.
Ela está com problema cardíaco", conta a sua mãe, Marta
Grigório, 40.
O filho do casal, Kauã, 3, não
é de brincar, e a escola já pediu
psicólogo. "Na volta da visita na
prisão [sábado], ele pegava o
celular: "Vou ligar para o meu
pai vir para casa'", diz a avó.
O padrasto de William, Laerte de Moura, 53, tomado pelo
nervosismo, sofreu na época
um acidente de carro e perdeu a
visão do olho esquerdo. Ele não
pode mais dirigir caminhão e a
renda da família ficou apertada.
Mãe de William e tia de Renato, a quem ajudou a criar -a
mãe dele morreu há 15 anos-, a
doméstica Maria Aparecida de
Brito, 48, disse que nas visitas à
prisão sempre havia choro.
"Eles não conseguiam falar, só
lembrando da humilhação."
Tortura
Questionados sobre a tortura, os rapazes se recusam a falar. Alegam que estão fracos e
que não querem mais reviver
aquele "inferno".
Renato perdeu 15 kg na prisão e William, 20 kg. Apesar da
debilidade, recebiam com abraços os familiares e amigos que
lotavam a casa cedida por uma
vizinha. Foram recebidos com
fogos de artifício e aplaudidos
quando saíam para a rua.
"Não falei que esse pesadelo
ia acabar?" dizia William, abraçando a mulher, Natália Priscila Brandão, 20. "Cadê o nêgo do
papai?", sorria ele para Kauã.
Renato, o primeiro a ser detido, aceita falar dos momentos
antes da tortura, quando policiais o abordaram em sua casa,
por volta das 10h de um sábado
de agosto de 2006.
"Chegaram já falando se eu
não tinha vergonha de ter feito
isso. Mas não falavam o que era.
Até então, eu não sabia que ela
[Vanessa, a ex-namorada] tinha morrido."
No seu celular estavam registrados os telefones do primo
William e do colega Wagner.
"Ligaram no meu celular. Disse
onde estava. Coisa de dez minutos depois, cercaram meu
carro", afirma William. Eram
três PMs e um policial civil.
"Você está preso, você está preso", era só o que diziam.
Instantes depois, disse, chegou um carro da PM, com Renato dentro. Um dos policiais
perguntou se William conhecia
o rapaz no veículo. Ele reconheceu o primo. Foi colocado
em outro veículo; os dois foram
levados a um matagal.
Eles não dão detalhes da tortura, mas William conta que
ouvia "gritos, só gritos" de Renato. "Não tenho palavras. Foram os piores momentos da minha vida." Os dois só chegaram
à delegacia por volta das 16h30.
No depoimento, nova pressão, conta Renato. "Em todo
momento, queriam que eu assinasse vários papéis. Nem cheguei a ler para saber o que era."
Wagner foi o último a ser
preso, também em casa. Sem
trabalho havia 15 dias, ele se
preparava para ir a uma entrevista de emprego.
Ele afirma que sofreu agressões dez dias depois, na delegacia. Só pela TV, dias depois, disse Wagner, é que foi conhecer o
rosto de Vanessa.
Mãe de Wagner, a dona-de-casa Iraildes Alves Conceição,
disse ter previsto que o filho
apanharia assim que os PMs
entraram em sua casa. "Jogaram meu filho no chão. Gritaram: "A casa caiu". Quebraram a
porta. Está até hoje quebrada."
Iraildes quer punição para
quem agrediu o filho. "Eu mesma entreguei na época o nome
de todos os PMs. Falei que queria e que quero Justiça."
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