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Irmãos que estudam apenas em casa são aprovados em exame
Jovens obtiveram média superior a 60 (mínimo para aprovação) em prova aplicada para avaliar se podem continuar fora da escola
Apesar do resultado, pai de garotos diz que avaliação foi injusta: "Prova tinha questões retiradas de vestibulares da UFMG, Fuvest e PUC"
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os dois adolescentes de Timóteo (216 km de Belo Horizonte) que deixaram a escola há
dois anos -e estão sendo ensinados pelos pais em casa- foram aprovados no conjunto de
provas determinadas pela Justiça para avaliar se o conhecimento deles é compatível com
o de alunos matriculados no
ensino regular.
Davi, 15, e Jônatas, 14, tiraram notas médias de 68 e 65,
respectivamente, em oito disciplinas -português, inglês, matemática, ciências, geografia,
história, arte e educação física.
A nota mínima para serem
aprovados era 60.
Os pais dos meninos, Cleber
e Bernadeth Nunes, estão sendo processados nas áreas cível e
criminal por terem retirado os
filhos da escola -se forem condenados, podem perder a guarda dos garotos-, conforme a
Folha revelou em junho. Eles
alegam ser adeptos do ensino
domiciliar ("homeschooling"),
mas a prática é proibida pela legislação brasileira.
Segundo a promotora de Justiça de Timóteo Maria Regina
Perilli, Davi e Jônatas tiraram
uma média geral acima de 60,
mas tiveram notas inferiores
em algumas matérias isoladas.
Ela não sabe se isso poderá influenciar na decisão judicial.
A Folha não teve acesso às
provas, mas apurou que Davi
tirou 46 em ciências e 58 em
educação física (ele teve notas
acima de 70 em inglês, geografia e história). Já Jônatas teve
notas baixas em matemática e
história (tirou 54 e 37 respectivamente), mas foi bem em português, arte e educação física.
"Achei que foi uma avaliação
injusta por estar muito acima
do nível exigido dos estudantes
brasileiros. A prova de matemática continha questões retiradas de vestibulares da
UFMG, Fuvest, PUC e Enem",
diz o pai, Cleber Nunes.
"Gostaria muito que essas
mesmas provas fossem aplicadas para alunos da rede pública
e privada. Além disso, recebemos a listagem com as matérias
com apenas uma semana de
antecedência", acrescenta.
Antes das provas, a Secretaria de Estado da Educação havia informado que elas foram
elaboradas por 16 professores e
tinham testes dissertativos e de
livre escolha de conhecimentos
gerais e de conteúdos curriculares compatíveis com a idade e
referentes às sétima e oitava
séries do ensino fundamental.
Ontem, a Folha deixou três
recados para falar com a equipe
pedagógica que havia aplicado
a prova nos meninos, mas ninguém ligou de volta.
A promotora Perilli afirma
que, embora o resultado das
prova seja uma peça importante no processo, ainda falta juntar a ele o depoimento de uma
testemunha de defesa do casal
Nunes -que será ouvida por
carta precatória em Anápolis
(GO). Só então o juiz vai decidir
se os meninos podem ou não
continuar estudando em casa,
longe dos bancos escolares.
Para Cleber Nunes, os filhos
demonstraram muito mais do
que a capacidade de assimilar e
armazenar informações. "Eles
mostraram seus potenciais em
lidar com desafios, com disciplina, garra e persistência. Agora, resta esperar que a Justiça
use de bom senso e nos deixe
seguir nosso caminho. Não é
justo que sejamos tratados como delinqüentes porque queremos fazer o melhor para nossos filhos."
Em geral, os educadores são
contrários à prática do ensino
em casa. Dizem que o convívio
escolar tem um papel importantíssimo na vida da criança e
do adolescente, especialmente
na superação do egocentrismo.
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