São Paulo, domingo, 05 de janeiro de 2003

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SAÚDE

Fisioterapia e acupuntura podem ajudar a resolver problema como o que atinge o presidente Luiz Inácio Lula da Silva

Síndrome do impacto causa dor no ombro

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sofre de uma "síndrome do impacto", agravada de tanto acenar para a multidão e abraçar pessoas. Essa dor no ombro, no entanto, não costuma escolher profissões, sexo ou classe social das vítimas.
Segundo médicos, a síndrome do impacto está entre as razões mais frequentes de procura a um ortopedista e costuma ser a causa de 90% das dores no ombro.
A síndrome é caracterizada pelo desgaste do manguito rotador, um conjunto de tendões (tecidos que ligam os músculos aos ossos) que cobrem o ombro. Segundo o chefe do grupo de ombro e cotovelo da Universidade Federal de São Paulo, Eduardo Carrera, a degeneração está associada principalmente ao envelhecimento.
O problema costuma começar por volta dos 40 anos. Um dos principais sintomas é a limitação dos movimentos -o paciente não consegue abotoar roupas, pentear os cabelos. Pode haver rompimento de tendões.
O movimento repetitivo de levantar os braços, por exemplo, também está associado ao problema. Acaba criando um esporão no osso do ombro (acrômio) que, por sua vez, vai ferir os tendões.
Isso acontece porque há um desequilíbrio dos grupos musculares. Nas atividades repetitivas, um grupo muscular acaba "trabalhando" mais do que o outro, explica o ortopedista Akira Ishida, 51, professor da Unifesp. Alongamento e exercícios ajudam a prevenir lesões, diz Caio Moreira, presidente da Sociedade Brasileira de Reumatologia.

Bursite e diagnóstico
Segundo Ishida, a síndrome do impacto é a causa de 90% dos casos de bursite, inflamação da bolsa que fica na articulação do ombro e "amortece" os movimentos.
Nos dois casos, o diagnóstico é feito por meio de histórico clínico e exame físico, radiografia, ultra-som ou ressonância magnética. O tratamento conservador consiste em fisioterapia e no uso de antiinflamatórios, ou mesmo no emprego de acupuntura para a dor.
"Se com esses recursos a dor persistir, a opção seguinte será uma cirurgia", diz Sergio Checchia, ortopedista, professor da Santa Casa e especialista em cirurgia do ombro. É Checchia quem está cuidando do ombro de Lula. "Por enquanto, o presidente está fazendo fisioterapia", informou.
Para os pacientes que precisam de cirurgia, é feita uma videoartroscopia, pequenos orifícios na pele por onde passam câmara e bisturis. É o caso da professora aposentada Maria Cecília Chehouan José, 65, de Socorro, na região de Campinas (SP). Ela lecionava a disciplina de desenho e, durante 30 anos, levantava, durante as aulas, pesados esquadros de madeira. Em julho, começou a sentir dores no ombro direito.
"Meus braços não obedeciam a cabeça. Ia pegar água, deixava a vasilha cair. Ia abrir a torneira e não conseguia", relata.
O primeiro diagnóstico médico foi de bursite. "Tomava analgésicos, fazia fisioterapia, hidroginástica, e a dor só piorava", conta a aposentada. Em outubro, decidiu mudar de médico e descobriu que a dor era causada pela síndrome. No mesmo mês ela fez a videoartroscopia e as dores acabaram.
A cirurgia consiste no corte de um pedaço do osso para que não volte a machucar os tendões ou na reparação destes, se houver ruptura. De acordo com Akira Ishida, a cirurgia com abertura do ombro é feita em "pouquíssimos" casos, apenas quando o paciente não responde aos tratamentos.
Segundo a fisioterapeuta Regina Torres Freire, 31, o tipo de tratamento fisioterápico e a sua duração vão depender da idade do paciente e do diagnóstico. Muitas vezes, afirma Freire, a inflamação tem repercussão em outras partes do corpo, como as costas.
Freire diz que, para aliviar a dor, a pessoa cria compensações no corpo, sobrecarregando outras regiões. Por isso, é fundamental uma avaliação de toda a cervical.
O ortopedista Akira Ishida diz que o tratamento com fisioterapia e analgesia costuma durar três meses. Se o paciente não sentir mais dor, estará curado. Mas deve continuar os exercícios e ficar atento para não praticar atividades que desequilibrem a musculatura do ombro.
(CLÁUDIA COLLUCCI, FABIANE LEITE E AURELIANO BIANCARELLI)


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