São Paulo, domingo, 06 de junho de 2004

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Em MG, exército faz patrulhamento

DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Tropas do Exército realizaram ontem o primeiro dia de patrulhamento nas ruas de Belo Horizonte, após o início da greve de policiais militares e civis no Estado. Munidos de fuzis e com os rostos pintados, os soldados começaram, a partir da 1h de ontem, a ocupar vários pontos da cidade.
O emprego das Forças Armadas em Minas foi anunciado na noite de anteontem, após as negociações por aumento salarial entre as entidades de classe -que querem um reajuste de 54%- e o governo estadual -que ofereceu 6%- terminarem em impasse.
O efetivo utilizado na operação não foi divulgado pelo Exército, sob a justificativa de que o número estava variando "de acordo com a evolução da situação".
Segundo o tenente-coronel Sylvio Cardoso, porta-voz da instituição na capital mineira, tropas foram deslocadas para Belo Horizonte de Montes Claros, Juiz de Fora, São João del Rei, Santos Dumont e Sete Lagoas.
Segundo o tenente-coronel, não havia movimentação de tropas nas ruas do interior, já que a paralisação das polícias ainda estava restrita à capital. "A situação no interior é de tranqüilidade."
Até o início da tarde de ontem, o clima era de normalidade nas ruas de Belo Horizonte. O único incidente em que houve atuação do Exército foi um caso de tentativa de furto no centro da cidade.
Como as delegacias da Polícia Civil estavam fechadas, foi montado um cartório dentro da 4ª Companhia de Polícia do Exército, para onde detidos seriam encaminhados. O cartório, segundo o porta-voz do Exército, funcionará como delegacia, com delegado, escrivão e perito. O suspeito detido no centro de Belo Horizonte ficou preso na companhia.
Ainda não há dados oficiais sobre o percentual de paralisação das polícias no Estado. Nas unidades da PM visitadas pela reportagem da Agência Folha na manhã de ontem, os policiais de plantão atendiam apenas ocorrências graves, como homicídios e roubos.
No posto da PM na entrada da favela Morro das Pedras, região oeste de Belo Horizonte, dois policiais militares trabalhavam normalmente. Já no Morro do Papagaio, na região centro-sul, o posto da PM estava vazio.
Delegacias da Polícia Civil não abriram ontem em Belo Horizonte. Segundo o sindicato dos policiais civis, a greve já prejudicava serviços essenciais, como remoção de corpos. O Corpo de Bombeiros e os agentes penitenciários trabalharam normalmente.

"Inconveniente"
O ministro José Viegas (Defesa) rotulou ontem de "inconveniente", mas "necessário", o uso das Forças Armadas para tentar assegurar a segurança da população durante a greve em Minas.
Afirmou ainda que não é "adequado" usar, por um período prolongado, soldados não-treinados em ações de reforço ou substituição a corporações policiais.
Entre 1.000 e 1.500 soldados, segundo o ministro, estão nas ruas de Belo Horizonte desde o início da madrugada de ontem, após acordo formal assinado entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governador do Estado, Aécio Neves (PSDB).
Segundo Viegas, a negociação para o envio de tropas vinha sendo realizada desde o princípio da semana passada, dada a iminência da paralisação.
Por enquanto, segundo Viegas, está descartado o uso de helicópteros e blindados na ação -como ocorrera, por exemplo, na greve dos policiais baianos, em 2001. "Estamos de sobreaviso."
Segundo o ministro, as Forças Armadas têm estudado uma forma para a criação no país de um contingente treinado justamente para atuar em situações de emergência, como no caso de Minas.
"Isso para que possamos nos deslocar com rapidez e que todos tenham um treinamento policial adequado", disse Viegas, que defendeu recentemente a idéia de o governo federal criar uma força federal que possa atuar em todos os Estados, inclusive em ações ostensivas e de segurança pública.
"O que há sempre é um inconveniente, e continua a parecer um inconveniente, é a utilização de soldados não-treinados para operações policiais em ações de patrulhamento urbano, porque se produz uma disfunção numa situação cujo prolongamento pode ser de pouca valia para a segurança da população."
Em seguida, Viegas disse que a ação em Minas é "necessária". "Evidentemente que numa situação de emergência como essa nós usamos o que temos." (THIAGO GUIMARÃES E EDUARDO SCOLESE)

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