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SAÚDE
Valor que determinava, em teste, existência de tumor na próstata é questionado; exame de toque é recomendado
Exame deixa de detectar 1/4 dos cânceres
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
O exame de PSA (antígeno específico da próstata), tido como a
principal arma para a detecção
precoce do câncer da próstata,
deixa de detectar um quarto dos
tumores malignos da glândula e,
por isso, deve ser feito associado
ao exame de toque retal.
O alerta é de urologistas que
vêem com preocupação os últimos estudos demonstrando a
possibilidade de câncer até em
homens em que o PSA apresenta
índice inferior a 1 ng/ml (nanograma por mililitro). Valores até
4 ng/ml são tidos como dentro da
faixa de normalidade.
Um dos estudos mais abrangentes, publicado no mês passado no
"New England Journal of Medicine", mostrou que 23% dos homens com PSA abaixo de 4 ng/ml
estudados apresentavam o câncer. Pelo menos 5% deles tinham
taxas entre 0,5 ng/ml e 1 ng/ml.
O PSA é uma proteína produzida exclusivamente pela próstata e
cuja presença aumenta nos casos
de câncer. Cresce também em pacientes com infecção ou com crescimento benigno da glândula.
A preocupação dos médicos é
que muitos homens deixam de ir
ao urologista, por medo ou preconceito do toque retal, e se
apóiam no resultado do PSA. "É
uma falsa sensação de proteção.
Ainda mais agora que os valores
de segurança do PSA estão sendo
colocados em xeque", afirma o
urologista Miguel Srougi, professor titular da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo.
Segundo ele, quando o PSA está
elevado [acima de 4 ng/ml], está
indicada a biopsia e, em geral, o
diagnóstico de câncer é mais fácil,
embora a técnica ainda falhe em
20% dos casos.
"O problema é quando está
abaixo de 4. Isso está provocando
um desconforto entre os médicos,
que sempre tiveram no exame
uma das principais ferramentas
para a detecção do câncer", afirma o urologista.
Segundo ele, esses estudos demonstram que os médicos precisam olhar com mais cautela homens que apresentem níveis de
PSA inferiores ao considerado
dentro da faixa de normalidade.
Para o urologista Luis Seabra
Rios, do hospital Albert Einstein e
vice-presidente da Sociedade Brasileira de Urologia, o nível de corte do PSA deve mudar para taxas
inferiores a 4 ng/ml. "Não sabemos quanto vai ser esse corte, mas
já estamos certos de que 4 não é
mais um índice seguro."
Segundo o urologista Geraldo
de Campos Freire, professor da
Faculdade de Medicina da USP,
alguns médicos já estão olhando
com cuidado os resultados de 2,5
ng/ml a 4 ng/ml e indicando biopsias, especialmente aos homens
mais jovens. "O PSA continua importante, mas tem que ser feito associado ao toque", diz Freire.
Urologistas também se preocupam com o fato de médicos generalistas ou de outras especialidades indicarem o PSA, como parte
do check-up dos pacientes, sem a
associação ao exame de toque. "Já
atendi casos de câncer em que a
taxa de PSA estava em 7 ng/ml e o
médico dizia ao paciente que não
havia problema", diz Rios.
O caso do comerciante Adelino
Pinheiro, 63, exemplifica bem essa situação. Desde os 55 anos ele
fazia o PSA por indicação do clínico-geral, em conjunto com outros
exames de rotina. Há dois anos, a
taxa da proteína passou de 3 ng/
ml para 7 ng/ml e só aí ele foi encaminhado a um urologista para
fazer o seu primeiro toque retal.
A próstata estava alterada e uma
biopsia confirmou o câncer. O comerciante teve a glândula extirpada (prostatectomia radical) e, por
se tratar de um tumor agressivo,
precisou também fazer radioterapia. "Graças a Deus ainda deu
tempo de me salvar", afirma.
Freire defende que os clínicos-gerais sejam treinados a fazer o
exame de toque por acreditar que
a cultura de visitar uma vez por
ano o urologista está longe da rotina da maioria dos brasileiros.
Já Srougi vê com cautela essa
idéia. "O exame de toque é muito
sutil. Não é fácil identificar um tumor na fase inicial", diz. Essa dificuldade, afirma, é sentida até entre os urologistas, que chegam a
divergir sobre o resultado de toque retal entre 50% e 80% dos casos, segundo alguns estudos.
Na opinião de Srougi, é preciso
que se invista em alternativas de
exames mais eficazes do que os
disponíveis atualmente, uma vez
que mesmo a associação do PSA
com o toque deixa de detectar pelo menos 8% dos casos de tumor.
As esperanças, diz ele, estão voltadas agora para uma nova proteína relacionada ao câncer de
próstata que pode ser detectada
por meio de um exame de urina.
Segundo estudo apresentado no
congresso da Sociedade Americana de Urologia, ocorrido no mês
passado, em um grupo de 533 pacientes, essa proteína pôde detectar 79% dos cânceres da próstata,
enquanto o PSA detectou 50%.
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