São Paulo, domingo, 06 de julho de 2008 |
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GILBERTO DIMENSTEIN Dançando na luz
NA QUINTA-FEIRA PASSADA ,
eram 19h quando deixei o
prédio da Folha e, depois de
dez minutos de caminhada, me vi
inesperadamente metido numa
coreografia. Começou a funcionar no galpão um teatro-escola criado por Ivaldo Bertazzo, que, nos últimos anos, vem se dedicando a trabalhar a dança com jovens de periferia do Rio e de São Paulo. O que ocorre naquele clandestino espaço mostra que essa junção da arte com a educação é uma das melhores receitas contra a barbárie, por gerar a sensação de pertencimento, reverência ao belo, prazer e perspectiva de futuro -está aí um dos importantes assuntos a serem tratados pelos candidatos a prefeito. Não tenho números para comprovar, mas aposto que, entre as múltiplas causas da extraordinária queda da violência na cidade de São Paulo -estima-se que, neste ano, a redução do índice de assassinatos vá ser de 80% em relação a 1999- está a expansão da cultura combinada com a educação, especialmente na periferia. Esse não é nem de longe o principal fator, mas ajuda a criar um clima mais acolhedor. Esse é um dos fatos novos da cidade de São Paulo, onde, segundo o Datafolha, nada preocupa tanto quanto a insegurança -muito mais do que, por exemplo, o trânsito. Criados na gestão de Marta Suplicy e ampliados com Gilberto Kassab, os CEUs ainda não se notabilizaram pela excelência acadêmica -a nota dos alunos está na média da capital, o que é ruim, mas funcionam como centros comunitários que são verdadeiros oásis culturais na periferia. Neste ano, receberam também o programa Fábrica de Cultura, mantido pelo governo estadual. Diversas escolas municipais passaram a ter oficinas de arte em contraturno e a ser estimuladas a se conectar mais com teatros, museus e cinemas. Geraldo Alckmin criou as escolas estaduais de tempo integral (a exemplo dos CEUs, sem bons resultados nas notas), que oferecem opções culturais -é o que ocorre num programa ainda mais amplo (Escola da Família), também da gestão de Alckmin, que deixa as escolas abertas nos fins de semana. Há programas municipais e estaduais, muitos dos quais concentrados nas periferias, de dança, música, teatro e comunicação, instalados nos mais diferentes espaços. Foi institucionalizada a cultura do hip hop; basta ver que São Paulo é referência mundial em grafite. Há dois anos, foi criado um atraente centro para a juventude na Brasilândia, zona norte da cidade. Tudo isso se soma à rede do Sesc e do Sesi. Nos últimos anos, têm prosperado nas comunidades experiências como a orquestra do maestro Bacarelli, em Heliópolis, os saraus de poesia da Cooperifa, na zona sul, e a biblioteca criada no que foi um ponto de tráfico de drogas na favela Sabin, uma iniciativa de Mano Brown e Ferréz. Há vários programas desse tipo no Jardim Ângela, que, no passado, foi apontado como a região mais violenta do planeta; perto dali está um cemitério conhecido como o lugar com mais adolescentes enterrados por metro quadrado. Hoje, aquela região é conhecida, também mundialmente, por seu programa de articulação pela paz. Uma pesquisa do Datafolha mostrou que cresce expressivamente a presença de estudantes mais pobres nos museus -isso se deve, em parte, à atratividade de lugares como o Museu da Língua Portuguesa. Todos esses fatos significam que, nesta campanha municipal, é importante prestar atenção à viabilidade das propostas que mesclam educação e cultura, apresentadas na semana passada. Kassab se compromete a criar a "escola de sete horas"; Marta afirma que vai ampliar o horário de aulas, tirando mais proveito dos espaços culturais da cidade; Alckmin diz que vai dar prosseguimento, agora na esfera municipal, ao projeto de tempo integral nas escolas. Nada disso indica que São Paulo seja um paraíso cultural -a cidade, aliás, está mais para os viciados em crack do que para os dançarinos de Bertazzo, mas vai aprendendo a dançar nas luzes. PS - Um dos registros mais impressionantes que conheço sobre o poder da arte de transformação em comunidades periféricas será apresentado, na próxima semana, no Sesc. Durante vários anos, a fotógrafa Milla Petrillo viajou pelo Brasil documentando crianças e adolescentes das regiões pobres submetidos ao encantamento da arte. As fotos estão no www.dimenstein.com.br
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