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No interrogatório, juiz ironizou militares, criticou trotes e pediu "mentira coerente"
DA SUCURSAL DO RIO
Foi a atitude do juiz Marcelo
Granado no interrogatório do
tenente Vinícius Ghidetti, único oficial e primeiro ouvido,
que mais desagradou ao Comando Militar do Leste.
Várias vezes, Granado encurralou o réu e ironizou seus argumentos. Alguns comentários
resvalaram no Exército. Para
militares, ele ridicularizou "valores" que o tenente disse "cultuar" e criticou a prática de trote, vista na caserna como reforço da "camaradagem" e rito de
passagem.
Leia abaixo alguns trechos:
Juiz não cai do céu
"Juiz federal não é sujeito
que senta aqui porque cai do
céu. Tem dor de cabeça, dor de
barriga, briga, faz carinho na
mulher. Nunca soltei pipa no
ventilador, joguei bola de gude
no tapete... Não fui criado em
apartamentinho no Leblon,
mas na zona norte do Rio."
(Ao abrir a audiência, pedindo a verdade)
"Susto"
Tenente Ghidetti - "Fui formado na Aman, com valores
que cultuo até hoje. Queria apenas dar um susto neles [liberando-os na entrada da Mineira, de facção inimiga da que
controla a Providência]", justificou, ao alegar que não pretendia desobedecer ao capitão que
determinara liberar o jovens
detidos.
Juiz Granado - "Esses valores o sr. aprendeu na Academia? Aprendeu na Aman a dar
"susto" também?"
"Traficante obedece?"
Juiz Granado - "Como um
ser humano que mora no Rio
pode querer me convencer de
que não podia cogitar que o sujeito entregue a uma facção rival vai morrer?"
Tenente Ghidetti - "Eu falei,
inclusive [aos traficantes]: "É só
um susto!'"
Juiz Granado - "E traficante
obedece?"
Tenente Ghidetti - Na minha
cabeça, a gente chegando ali
com viatura militar, acreditei
que fosse impor respeito..."
Juiz Granado - "Achou que
fosse impor respeito? Então
por que o Exército precisa ficar
24 horas na Providência? Se
fosse assim, bastaria o Exército
chegar lá, dizer que não queria
ponto-de-drogas e ir embora."
Tenente Ghidetti - "Esperava
sinceramente que só fossem tomar um susto."
"Mentira coerente"
Juiz Granado - "Já fui defensor público e conheço as estratégias. (...) Peço apenas que, se a
verdade não for possível, que a
mentira seja coerente."
(Ao instar os militares a dizer
a verdade)
Trote "absurdo"
Sargento Renato Alves - "Já
vi colegas meus apanharem de
cinto e até mesmo de porta de
armário. É como os militares
encaram fazer parte de um grupo. Levei na brincadeira, todos
já passaram a mesma situação."
Juiz Granado - "Já é um absurdo o trote interno, que deveria ser banido, mas é normal
trote em civil?"
Sargento Alves -"Não."
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