|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ENTREVISTA
Estudo analisa usuários de anabolizantes em SP
DA REPORTAGEM LOCAL
Um estudo realizado no Centro
Brasileiro de Informações sobre
Drogas Psicotrópicas da Universidade Federal de São Paulo sobre
o perfil de 40 usuários de anabolizantes de academias de São Paulo
concluiu que 93% misturavam
vários medicamentos, inclusive
de uso veterinário, e 47,5% não tinham a menor idéia do que ingeriam -apesar de 77,5% terem nível superior. Mais da metade deles tinha iniciado o uso da droga
antes dos 20 anos. "A estética está
acima de tudo", diz Solange Napo, 50, a psicofarmacologista que
planejou a pesquisa.
O anabolizante é um hormônio
sintético que substitui a testosterona (hormônio masculino). Só
pode ser utilizado por recomendação médica em pessoas com
déficit da substância. Há ainda
pesquisas para a aplicação em
idosos que precisam de massa
muscular. Todos os outros usos
são inadequados.
Folha - O que acontece com quem
usa a droga sem indicação?
Solange Napo - Um jovem na puberdade que começa a usar em
grande quantidade pode ter afetada sua maturidade sexual. Aparecem caracteres masculinos antes
do tempo [o que afeta seu desenvolvimento]. O jovem, o homem
adulto e o velho também podem
sofrer um aumento das mamas
[alguns dos anabolizantes são
metabolizados em estrogênio,
hormônio feminino que estimula
o crescimento das mamas] e desenvolver uma acne violenta. O
efeito mais sério é o aparecimento
de tumores no fígado. Além disso,
alguns desenvolvem uma agressividade intensa. Nas mulheres
[quatro participaram da pesquisa], os danos são maiores, porque
não têm volta. Elas desenvolvem
pêlos no rosto, a voz engrossa e há
interferências no ciclo menstrual.
Folha - Quais as razões que os
usuários apresentaram para tomar
as drogas?
Solange - Nesse estudo falamos
apenas com jovens que tomavam
para ficar mais bonitos e fortes.
Eles adotam um estereótipo de
corpo muito forte e musculoso
como referência para serem aceitos, admirados. É uma subcultura
da academia. Eles acreditam que
aquilo é o mundo real. Apesar de
essas drogas não serem psicotrópicas, percebemos que elas causam dependência. Os usuários tomam mesmo sabendo que faz
mal, querem parar e não conseguem. Também só falam disso e
desenvolvem uma compulsão por
exercícios físicos. Percebemos
também que todos sofrem de um
desvio sobre a própria imagem.
Ele se olham no espelho, estão
enormes, mas se acham magros.
Estudos sobre a dependência e
distúrbios de imagem ligados à
droga são recentes.
Folha - O que será feito a partir do
estudo?
Solange - Uma das coisas que
queremos é a divulgação desses
dados nas academias.
Texto Anterior: Agenda Próximo Texto: Violência 1: Polícia prende ladrões na Receita Federal Índice
|