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COMPORTAMENTO
Ao mesmo tempo em que os homens gostam da "abordagem fácil", elas dizem adorar a "seriedade" deles
"Facilidade" da mulher brasileira atrai estrangeiros
ROBERTO DE OLIVEIRA
DA REVISTA
Imagine uma terra povoada por
mulheres lindas, sensuais e absolutamente disponíveis, onde os
forasteiros são recebidos com sorrisos imensos e saias minúsculas.
Mais do que isso, são tratados a
pão-de-ló e disputados a tapa.
Essa visão estrangeira do Brasil
como um paraíso masculino ganhou reforço extra durante a Copa, com torcedoras "canarinho"
posando seminuas para câmeras
do mundo inteiro.
Na edição de junho, a revista
norte-americana "Men's Journal"
(567 mil exemplares) trazia na capa uma chamada reveladora:
"Guia do Solteiro no Brasil, onde
as mulheres caçam os homens".
Ao lado, uma morena de corpão
reluzente, biquíni e camiseta top.
Jason Harper, autor do texto,
mora no Rio desde dezembro e
está deslumbrado com a facilidade da paquera: as mulheres se
aproximam, diz ele, olham nos
olhos, alisam seu braço e até beliscam sua bunda. O repórter foi
"checar" se o fenômeno era carioca e diz ter observado o mesmo
comportamento feminino em São
Paulo e Belo Horizonte.
"Não existe necessidade nem
lugar para vergonha no Brasil",
escreve Harper, acrescentando
que, além de disputado como
mercadoria, o "produto estrangeiro" é mais valorizado.
E os depoimentos de homens,
mulheres e especialistas em comportamento mostram que o feitiço estrangeiro funciona mesmo
-e dos dois lados.
Se eles gostam da "abordagem
fácil", elas adoram a "seriedade"
deles. "O gringo é mais romântico
e não se interessa por baladas de
uma noite só", diz a estudante de
psicologia Verena Prado, 19, que,
em dois anos na Europa, namorou quatro ingleses, quatro italianos, dois sul-africanos e um australiano. Ela não economiza elogios: "Eles honram a palavra. Se
pegam o seu telefone, ligam. São
carinhosos e dizem tudo o que você quer ouvir. É por isso que a
mulherada dá em cima".
Não há dúvida de que nossa sociedade é mais aberta à presença
do "estranho", avalia a antropóloga Maria Luiza Heilborn, 47, da
Universidade do Estado do Rio de
Janeiro. E também à sua influência: a imagem da brasileira sensual que integra o imaginário estrangeiro, afirma, não é uma obra
inteiramente "made in" algum lugar lá fora, mas uma concepção
introjetada e alimentada pelos
próprios brasileiros. "Quando encontram um estrangeiro, as brasileiras começam, às vezes inconscientemente, a agir como eles esperam. Reforçam o mito", diz
Maria Luiza.
O psicanalista Contardo Calligaris, 54, italiano casado com uma
brasileira, lembra que esse Brasil
descrito na revista já era um sonho dos europeus antes da chegada de Cabral. "A sociologia brasileira entendeu muito cedo que, no
destino do Brasil, pesa muito o fato de o país ser, inicialmente, um
sonho europeu erótico e sensual."
Sensual, porém, não significa
sexual. "As brasileiras são menos
reservadas, mas isso não significa
sexo garantido", diz Maria Luiza.
Casado com uma brasileira e há
quatro anos no Brasil, o norte-americano Jon Lewis Fraser, 38,
concorda. "Os americanos são
conservadores, morrem de medo
do próprio corpo e não conseguem entender que uma roupa
ousada ou um toque não significam que a garota está disposta a ir
para a cama com você. Mas eu entendo, também passei por isso no
começo", diz Jon.
"Abracei a minha irmã duas vezes na vida. Aqui, na segunda vez
em que você encontra um amigo,
já está beijando e abraçando",
brinca o canadense Perry Aulie,
há dois anos em São Paulo. Para
quem é de fora, diz, é natural sexualizar essa relação, mas, aos
poucos, percebe-se que o povo
brasileiro em geral -e não só a
mulher- tende a intensificar
suas relações de amor e amizade.
"Quando cheguei, fiquei maluco com tanta mulher. Em todas as
esferas sociais há mulheres bonitas. Meus amigos vêm ao Rio a cada quatro meses, acham o paraíso. Na Itália, correm atrás das mulheres; aqui, é o inverso", diz o italiano Damian Canevari, 35.
O problema é que o Brasil tem
mulher em excesso, na opinião da
empresária Mariana Peronne, 32,
casada há um ano com um francês. Numericamente, ela tem
mesmo razão. Desde a década de
60, a população feminina vem
crescendo mais que a masculina.
Hoje, "sobram" 2,6 milhões de
mulheres no país
Em terra de escassez, quem tem
sotaque é rei. "O estrangeiro atrai
pela diferença, e ela não é só física.
Logo no primeiro contato, eles se
revelam mais educados", diz a advogada Daniela Schneider Pulcini, 28, que há um ano vive com o
canadense Perry Aulie, 37.
Mariana Peronne tem opinião
parecida. "É difícil encontrar um
cara legal. Os melhores são gays
ou "galinhas". Quando aparece alguém que vale a pena, todas querem pegar", conta.
A impressão feminina pode ser
essa, mas não faz sentido, explica
o psicanalista Francisco Daudt da
Veiga, 54. "Qualquer lugar do
mundo tem homens de todos os
tipos: mulherengo, sensível, canalha, delicado, cafajeste e compreensivo. As mazelas não são exclusividade do brasileiro", afirma.
Colaborou Adriana Cardillo, da Revista
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